quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A censura já chegou

Me falaram que eu nem deveria
escrever isso.
Afinal, é o que precisa ser dito.
E por isso mesmo...

Sumiu a arte de alguém.
Um poema apagado
um desenho rasgado
uma voz silenciada.

Mas não foi censura que chamaram.
A política falou em nota
que apenas removia o absurdo
o irreal, o exagero.

Realidade,
era uma charge absurda.

Afinal, em que mundo sério
martelos parecem fuzis.
livros parecem fuzis.
esquadrias parecem fuzis.
furadeiras parecem fuzis.
e pretos, em geral, parecem ter fuzis.

Cara de quem tem fuzil.
Ou vai ter um dia
caso seja criança e preta.

Me falaram que eu deveria parar.
Não foi a política.
Foi quem me ama.
Talvez por medo de confundirem
meus poemas com fuzis.
Talvez por medo de, simplesmente
me ver em desespero por tanto
tanto
olhar esse abismo do absurdo
que virou o dia a dia.

Rasgaram a charge
quebraram a placa
mataram Marielle
e a qualquer momento
pela pura cultura do medo
(mas sem instituir censura)
vão acabar me calando.

Não.
Não deixe calar a nossa voz.

Fugi da senzala para cantar.
Não deixe calar a nossa voz.
Não deixe censurar a nossa voz.
Não deixe exterminar a nossa voz.

Eu vou continuar
apontando minha caneta
cuspindo tinta e palavras e arte
na direção dos cuspidores de chumbo.

E se me censurarem?

Se me censurarem
por favor,
pegue minha caneta do chão
e continue.

______________
Onishiroi Shonin

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