terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Terça de milagre

E então sentei na cadeira
porque é terça, sim
mas quarta é feriado.

E liguei o som e ouvi
meu coração cantando
louco por você. Afinal

heart tinha a melhor guitarra
(e voz).

E bebi. Bastante e muito a beça
(é feriado após a terça
e isso pode ser dito de novo).

Não tive um motivo para rir
nem comemorar. Mas foda-se.

Foda-se.

Escrevi um poema.


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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Alteração do superavit 2014

Vamos lá. Eu costumo evitar a política. Costumo mesmo. Mesmo confrontado, tento guardar minha opinião para mim, e permitir a cada pessoa que faça sua própria pesquisa. Na realidade, eu evito falar qualquer coisa que possa ser entendida como tentativa de mudar a opinião de outra pessoa, salvo caso ela tente me atacar diretamente. Eu amo o livre arbítrio e quero sempre permitir a cada um o total direito de ter o próprio. Mas, as vezes, eu me sinto forçado a manifestar-me.

Certamente você já leu/ouviu algo sobre o debate corrente envolvendo termos como superávit primário, meta fiscal, e umas tais LRF e LDO. E talvez esteja saindo por aí dizendo sua opinião sobre o assunto. Bem, eu vou tentar me manter neutro, mas quero tentar esclarecer o que está em debate. Sou, apesar de meramente um filósofo, indivíduo versado em jurisdiquês (dialeto antigo do português) e quero expor algumas opiniões sobre o debate para auxiliar a formação de opinião. Vamos pelo começo.

Nossa constituição prevê criação de legislação específica para controles de finanças públicas (Art. 163 da constituição). Creio que é fácil compreender que isso faz todo sentido, uma vez que ninguém gostaria que o governo estivesse habilitado a gastar com o que quisesse (como viagens de férias ou financiamento de empresas para parentes), nem que gastasse mais (ok, MUITO mais) do que gera de receita. Claro, ao longo das décadas a legislação pertinente em questão sofreu algumas alterações e emendas, para delimitar eventos não previstos e etecetera. Eventualmente, foi criada a LRF - LEI DA RESPONSABILIDADE FISCAL (Lei Complementar N 101, de 4 de maio de 2000; guarde essa sigla). Essa é a lei em vigor, e ela tem uma série de objetivos. Um dos pontos mais importantes dessa lei é que ela impedia alguns "truques" muito utilizados nos governos anteriores, de no final de um mandato iniciar grandes gastos com coisas vistosas (principalmente obras e criação de empregos mediante novos cargos públicos ou expansão de empresas públicas de forma desnecessária, algum leitor lembra dos tempos que havia uma fábrica estatal de GUARDA CHUVAS?), e os gastos ficavam na conta do próximo governo, que começava com impopulares medidas de corte disso tudo para ter algum recurso. Além disso, a lei prevê a meta de superavit fiscal. Superavit significa, de forma extremamente simplificada, receber mais do que gasta. O leitor pode se perguntar como seria possível gastar mais do que se recebe. Quem tem cheque especial certamente sabe que é possível. O governo tem, de forma similar, formas de gerar recurso mediante empréstimo, seja pelo tesouro direto, seja com FMI, ou com outras formas mais complexas. A obrigatoriedade de Superavit fiscal existe com o objetivo de garantir que esse endividamento público diminua, e não cresça. Alguém poderia dizer que é insensibilidade uma lei que prevê a capacidade de sempre receber mais do que se gasta, mas essa sensibilidade existe. A lei determina metas variáveis dependendo do crescimento econômico (PIB, entre outros dados) de forma que haja flexibilização correspondente dessa meta ou mesmo sua liberação em cenários de contração econômica (AKA, recessão. Fuja dessa palavra, ela não é legal).

A LRF (guardou a sílaba né?) define várias regras, mas essas metas são estabelecidas de acordo com uma outra lei, que é referência desta, a LDO - LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (essa lei é definida anualmente, com base em vários dados, para estados e união). Essencialmente, a LRF diz como pode ser gasto, e a LDO diz o QUANTO pode ser gasto com O QUE, e meu objetivo de superavit. Isto é, na LDO tem regrinhas que me proíbem de gastar demais com uma coisa, que de outra forma me permitiria "enganar" minhas metas (por exemplo, exagerando no gasto com cargos públicos para maquiar o desemprego).

Caso em um ano o governo não atinja os objetivos na lei, qualquer cidadão pode denunciar o evento, que deve ser julgado e, caso condenado, prevê alguns efeitos, como o afastamento de cargos públicos por prazo não superior a cinco anos (Lei N 1.079, de 10 de abril de 1950. É, não é lá a pena mais severa que tem na legislação brasileira, roubar uma galinha é muito pior do que endividar o país). Pode ser pouco, mas significa que os envolvidos perdem pelo menos um período eleitoral, já que são imediatamente destituídos de qualquer cargo em que estejam (e só podem ser restituídos caso outro julgamento os absolva). Ou seja, descumprir a meta é algo chato. Não é o fim do mundo, mas é chato, além de um desgasto na imagem (não que o desgaste seja tanto, o Collor é prova de que é perfeitamente possível ser condenado e voltar algum tempo depois inocentado com um penteado diferente).

Nosso governo atual, já há algum tempo, estava em risco de não cumprir a meta. Recentemente, este risco deixou de existir para tornar-se uma certeza. No cenário atual, é IMPOSSÍVEL atingir o superávit fiscal. Não estou exagerando ou sendo tendencioso. Exagero e tendenciosismo estão entre os motivos pelos quais evito este assunto. Porém, como alguns sabem, eu trabalho com números. Volte ali naquele impossível em letras capitais acima e fique olhando para ele um pouco. Eu espero.

Números não mentem. Sim, cálculo diferencial e limite podem gerar opiniões diversas sobre seus resultados, mas balanços e controles de custo/receita não tem como ter resultados distintos. 2 + 2 = 4 e 2 - 4 = -2 sempre. Então, quando digo que o superavit não pode ser alcançado este ano não estou falando por minha posição política, e sim por matemática básica. Exceto...

Lembra que a LDO determina o QUANTO gasta-se com o QUE? Então... ela também determina como a gente faz a conta do superavit. E, como falamos, ela prevê flexibilizações. Existem alguns gastos contingenciais que não contam no superavit, por exemplo. Isso significa que se eu gasto 10, mas 2 foram gastos em "despesa que não conta no superavit", eu conto como se tivesse gasto 8. Assim, se recebi 12 e meu superavit era 4, eu teria alcançado o objetivo. Pegaram até aqui? Ótimo. Se quiser que eu repita, é só mover a barra de rolagem para cima. O texto é longo, aproveite para beber uma água. Agora vamos em frente.

Ontem, 11/11/2014, foi encaminhado ao congresso projeto de lei para alteração da LDO 2014. Esse projeto altera um parágrafo de forma a, simplificadamente, permitir que os gastos com o PAC deixem de contar para a meta do superavit. Isso significa, na conta até o mês passado, um valor de 127 bilhões de reais. Nossa meta de superavit é de 116,1 bilhões. Só com a aprovação dessa lei já passamos do nosso atual déficit primário para o lado positivo da balança. Adicionalmente, o PAC prevê várias formas de autorizar rapidamente gastos adicionais. Como cada real gasto no PAC não conta, até o fim do ano é possível que esses 127 bilhões cresçam conforme necessário. O que isso significa?

Digamos que VOCÊ determine uma meta de, no ano, começar e fechar o ano sem dever um real no banco. Em novembro, faltando 40 dias para o fim do ano, você olha sua conta no vermelho e determina que o gasto com cartão de crédito não entra nessa regra. Então em dezembro pode perder a linha a vontade no cartão que continua obedecendo sua meta pessoal. Parabéns.

Essencialmente, é isso que o governo está fazendo. Ah, a LDO já foi alterada esse ano. Quatro vezes se não me engano. Mas nenhuma vez foi na reta final do ano, com o balanço negativo e colocando na conta a permissão para descontar uma nota bilionária que tem autorização para crescer mais o quanto quiserem. É claro, essas coisas demoram para ser votadas, então foi designada urgência. HOJE (o projeto foi apresentado ONTEM, e HOJE, 12/11/2014) já foi levantado (www.congressonacional.leg.br/portal/noticia e também www2.camara.leg.br/camaranoticias  coloque esses links nos seus favoritos, compartilha com os amigos para fazerem o mesmo. Não peço isso para meu blog, mas para esses endereços eu peço).

Paro por aqui, como disse, não quero expressar minha opinião pessoal, apenas permitir aos que estão fazendo isso tenham conhecimento de causa. Sem mais.

______________ Onishiroi Shonin

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Quinta-feira

Queria sentar sob as estrelas no gramado
e tomar do vinho direto da garrafa,
misturá-lo com o néctar de tua boca,
saborear-te com a noite e a lua.

Mas hoje a noite é de lua nova,
tua boca está distante incontáveis milhas
e nuvens cobrem todas as estrelas.

Resta-me grama e vinho,
e motivos inúmeros.

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Onishiroi Shonin

domingo, 24 de agosto de 2014

Quinhentas milhas

Acordei como um autômato
com o braço procurando algo
que não estava do meu lado.

Bebi o café com leite e
mesmo assim não acabou
a sensação de incompletês.

Minha mente transitou por
todas as memórias que
deveriam ser mais completas.

O mundo hoje acordou errado
concluí.
Eu estou aqui, e você aí.



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Onishiroi Shonin

domingo, 17 de agosto de 2014

OPNI

Navego por um mar incomum
no qual a rede é o caminho
e os dedos dizem a direção.

Navego como um louco, surfo.
Vôo como uma folha ao vento,
um galho na correnteza.

Me alimento não de plâncton,
mas de dados, dos mais diversos,
independente de forma ou origem.

Ah! mas feliz fico quando encontro
como se fossem ervilhas no pasto
o objeto poético não identificado.


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Onishiroi Shonin

terça-feira, 15 de julho de 2014

Uma prosa

Sim, eu conheci o poeta.

Eu o encontrei no vale,
andando entre os lírios.
Admirava-se com cada
um, único, lírio.

Conheci sua gargalhada,
trovejante, sonora, contagiante.
Contava histórias como um mago
tecendo o mundo em palavras.

Em todo o tempo com o poeta
contudo,
nunca o vi derramar uma lágrima
sobre as pétalas dos lírios.

Ah, eu o vi sério, frio,
com os olhos extremamente distantes.

Quando indaguei, ouvi
em dura, seca, árida prosa
que o poeta havia trocado
lágrimas
por versos.



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Onishiroi Shonin

Final de outono

Eu vou descendo pela rua.

O chão é tão limpo,
que não há pedras à chutar.
A iluminação, tão farta,
que não há sombras a esgueirar.

É final de outono, as folhas
já caíram todas.

Eu vou descendo pela rua.

Uma rua qualquer, mas
que todos já desceram, todos
vão descer.

Aqui, nessa rua,
eu destruí um coração.

Eu vou descendo a rua.


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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Avenida das Américas

Tentaram colocá-las em linha
mas elas não sabiam fazer fila.
Disseram a cada uma: seja bela
mas todas se sentiram meio cinza.

Quiseram elas alcançar o sol
mas lhes negaram.
Quiseram elas abraçar o mundo
mas lhes podaram.
Quiseram elas desistir de tudo
mas lhes regaram.

Sem que ninguém visse
foram deixando de ser.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Uma noite perfeita

Estive andando por aí.
Olhando um pouco do mundo.
Parece que nunca vi
o bastante.

Continuo sem ver as estrelas.
Sempre nublado por aqui.
As flores continuaram
se escondendo. Malditas.

O que era cinza continuava
coberto por várias cores
que continuavam sendo
cinza.

Mordi meu velho palito,
o tipo de coisa que não muda.
É bom ter algo firme de verdade
e não esse asfalto feito pedra.

No final da noite achei
uma carrocinha de algodão doce
que me deixou com estrelas no céu
da boca.

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Onishiroi Shonin

sábado, 14 de junho de 2014

Geração Coca Cola

Falaram que não ia dar.
Que gente como eu não
sabia mais o poetar.

Chamaram de tosco,
disforme, sem classe.

Eu chamei de livres.

Falaram que não servia
se não fossem catorze
Alexandres na colina.

Aí eu vi uma pedra
no meio do caminho.
Nunca me esquecerei
desse acontecimento.

Chutei a pedra,
e com ela a métrica,
e chamei o poema
de putaquepariu.


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Onishiroi Shonin

Girassóis

Ando bem caladinho
como se nada tivesse à falar.
Com alguns trejeitos,
um modo estranho de suspirar.
Não fecho meus olhos,
por vezes aponto, penso.

Ando bem caladinho
como se isso nada fosse.
Ando sozinho, pulando
pedras coloridas, linhas.
Por vezes pisando na
placa amarela. Não na grama.

Ando bem caladinho,
bem quieto, sem sorrir.
Passando assim, bobo,
ninguém percebeu
que eu falei das flores.

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Onishiroi Shonin

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Dane-se

Cansei de ouvir canções
me dizendo que não se deve
amar, porque os corações,
sempre vão errar.

Cansei de ouvir fracassos
de feridas sempre abertas,
de nunca cicatrizes,
e eternos abcessos.

Não desperdicem seu tempo comigo.
Existe uma voz
dentro de minha cabeça.

Chamem de estupidez,
vivo com a chama acesa.
Fiquem com sua lucidez.

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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Centro empresarial

Pela janela ele via sonhos
aonde os outros viam nuvens
ou as vezes nem isso.

Nos arranhões ouvia
gritos de revolta contra
a opressão do firmamento,
e mãos de atlas que não cediam.

E via arte e ouvia música
nas pequenas coisas banais
que explodiam seus sentidos
aqui e ali.

Quis escrever um poema
mas o telefone tocou
e lembrou que
só trabalhava ali.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Racionais

Era um menino e uma menina
que não eram mais crianças.
E ele sabia e ela sabia.

E faziam coisas juntos
mas não faziam juntos coisas.
Até que faziam um casal bonito.

Mas ela tinha o dela
e ele tinha a dele.
E ele olhava ela e sabia
que ela sabia, e olhava ele.

Ele era um menino inteligente
mas concluiu estupidamente
que ela, menina inteligente,
inteligentemente concluiria

e fariam coisas juntos.
Mas essas coisas nunca
são tão racionais assim.


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Onishiroi Shonin

domingo, 18 de maio de 2014

Quebrando as regras

Tinha dedos ágeis
escrevendo pelo teclado
como Vladimir Horowitz.

Tinha língua incansável
cheia de palavras
primorosamente rimadas.

Tinha mente afiada
perceptora de detalhes
que o mundo clareava.

Mas foi uma mulher que lhe disse
que não bastava ser poeta.
Tinha que saber puxar o cabelo.

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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Dando forma


Tentei escrever um poema
para ver se dando forma
era possível, talvez,
botar pra fora

esse foco, essa idéia,
que me ocupa, perturba,
sem parar, sem embotar
dia adentro, noite afora.

Que se me torna feliz,
me agonia e consome,
me levanta e me derruba.
Me vicia, me devora.

Eu desisto, em favor de dizer
que você vai ter simplesmente
que me beijar.
Você vai entrar na minha vida
já que se tornou toda a graça dela.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Um poema bobo

Era jovem e era rapaz,
e era cheio de nobreza.
Olhava o mundo como um quadro
e dizia sempre que iria retocá-lo.

Tinha no coração forte alicerce,
que resistia a qualquer intempérie,
pois nele havia uma moçoila,
a qual ele amava e que o amava.

Mas um dia o jovem, o pobre rapaz,
fez o mundo chorar ao vê-lo quebrar.
Ah, ele, o menino. O pobre rapaz.

É que ele, rapaz, nobre virjão,
descobriu que sua amada, seu coração,
trepava.


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Onishiroi Shonin

terça-feira, 15 de abril de 2014

Tempestade vermelha

De papel cinza e tinta preta,
fez-se dados, na nuvem.
Do oriente não veio sol,
mas vento frio e tempestade.

Sem som, sem grito, sem trovão.
Tudo caiu, ruiu.
Em chuvarada, de números
vermelhos disfarçada.

O dia findou.
Os homens duros despediram-se
ainda secos, e foram
para outro dia.

O hoje virou dados
na nuvem
e a bolsa caiu 2,21%


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Onishiroi Shonin

domingo, 6 de abril de 2014

Dedos na nuca

O hiato do segundo
aonde a vida se congela.
O ar prende,
a boca encharca,
a mão nem treme.

O mundo lento, aquoso.
Os pés se firmam,
mas encontram areia.
A mente foca.

E o corpo se lança, se joga.
As mãos se esticam,
a boca abre
em silêncio.

E o primeiro
beijo ocorre.


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Onishiroi Shonin

sábado, 5 de abril de 2014

Linha Amarela

A base era cinza e não branca,
e o artista, pouco inspirado.
Na sua curta aquarela
poucas cores, mal misturadas.

Fez uma linha amarela,
quase reta.
Em pontos, as vezes, borrada,
em outros, precisa tal qual régua.

Fez manchas de céu mas,
brancas e cinzas.
Fez céu de chuva, fez sem graça.
Sem azul, sem laranja.

O artista, pouco esforçado
fez não belo, não prático.
Mas a tela, revoltada,
brotou verde, rosa e vermelho,
de dentro para fora
e salvou o quadro.



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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 26 de março de 2014

A sala branca

Corri como um louco.
Respirei e suei,
rangi os dentes,
sangrei.

(Na sala branca)

Pulei e agarrei
ar e poeira.

(havia um cavaleiro)

Caí,
rolei,
corri.

(segurando uma espada)

Girei, continuei,
corpo tenso, insisti.

(displicente. Sorriu pequeno.)


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Onishiroi Shonin

sábado, 22 de março de 2014

Tudo o que não foi

Era uma vez uma menina
que escrevia poemas e poesias.
Tímida, a pobre menina,
as guardava, as escondia.

As poesias gritaram, um dia.
Cantantes, vibrantes,
queriam o som da voz,
queriam a luz do dia.

E a menina então,
a pobre menina,
fez-se grande e cantou
a bela poesia.

Mas a dura orelha
negra e branca e sem cor,
gritou gritou e gritou,
em prosa sem sintonia.

A menina, pobre menina,
todos os versos engoliu.
Chorou letras e canções
que nunca mais seriam.

A menina, rica mulher,
hoje simplesmente faz contas.
Soma, vende, brutaliza.
E sonha lindas canções,

explodindo conventos em prosa dura.


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Onishiroi Shonin

terça-feira, 18 de março de 2014

A última noite em que chorei

A noite era pontuada
de lanternas sorridentes.
O sabath era celebrado
por jovens descrentes.

Entre círculos de círculos
transladava um solitário.
De frágil carne, sem apoio,
dos truques vítima, escárnio.

Ferido, em fuga dentre os seus,
vacilou, caiu, quebrou.
Cerrou os punhos, tremeu,
sua dor se fez. Chorou.

Uma mão então se fez sentir.
Um braço, um torso,
um ombro. Liberto,
e nunca mais remorso.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 17 de março de 2014

A guerra de um homem

O deserto me chama,
e espada em mãos,
vou-me, para que outros
não precisem ir.
Vou leve, em cascos ligeiros,
alforge vazio e coração cheio.

Todos os dias e noites,
procurarei seus olhos
no sol que nasce
na lua que se esconde.
Ouvirei suas preces,
no vento que sopra
e no silêncio da noite.

Eu volto. Eu hei de voltar.
Só lembre, por favor lembre
de me esperar.


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Onishiroi Shonin

sábado, 15 de março de 2014

Flower tattoo














Let me escalate...
trough your body.
With tongue, fingers,
count your ribs.

Let me escalate...
your flavor.
Touch your substance,
drench your soil.

Let me escalate...
your flowers.
With teeth and flesh,
make them bloom.

Let me escalate...
your moaning.
Touch your soul,
give you life.


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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 5 de março de 2014

A noite mais longa

E a noite caiu,
quente, escura. Barulhenta.
Vento, folha. Movimento.

Permaneciam os olhos amarelos,
silenciosas testemunhas
da história que acabava.

Palavras ditas e ouvidas,
distâncias foram medidas.
Uma porta se fechou
e quase tudo mudou.

Pela janela, o mundo lá fora
pouco se importou.
As testemunhas, uma a uma,
apagaram.

Sem se importar com quem ficou
o sol
continuou.

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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Dias de sol

Ela não estava lá.
E todas as folhas ficaram
em branco, esperando.
Esperando esperando esperando.

E ela não estava lá.
E veio o sol e veio a chuva
e as folhas continuaram
em branco.

E ela não estava lá.
Uma rua seguia na outra
como um dia no seguinte.

Só que sem versos,
sem magia, sem vida,
sem ela.


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Onishiroi Shonin