sábado, 25 de maio de 2019

O centro mudou

Se você olhar para cima,
caso você seja desses,
tem ainda uma águia de bronze
no topo de um prédio.

Prédio. Palácio.
Com três andares, não é mais sobrado.

Ainda há sobrados,
e travessas e igrejas e sebos.

E há chinas e avenidas e ternos.

Continua corrido, um pouco mais
desbotado...

O que mudou é que,
na correria,
não se olha mais para cima.

A águia de bronze não liga.


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Onishiroi Shonin

terça-feira, 21 de maio de 2019

RESISTÊNCIA

Eu grito: Resistir!
em frente ao muro de preto-luto.
Palavras, branco-bastão
anunciam que ainda se sobrevive,
por pouco, por aparelhos.

Eu grito: Resistir!
nas ruas, minha voz entre muitas,
pedindo, implorando, cantando, clamando,
desesperando,
para que não, como anunciado,
desliguem os aparelhos.

Eu grito: Resistir!
como estamos resistindo desde...
desde que lembro.
Nós, jovens e velhos, partes
de um corpo, em eterno desmonte.

Porque morrer... nós recusamos.
Então resistimos.


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Onishiroi Shonin

sábado, 18 de maio de 2019

Dela

Ela guardou o poema
que tinha o nome dela.

O primeiro
o segundo
e todos os outros.

Bonito
e bobo.

Porque o amor é bonito,
mais do que é lindo,
e bobo.

Ah, o amor não é bobo
mas deixa a gente.

Bobo é
guardar o poema
com o nome dela.

Bobo.

Todos os poemas são dela.


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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Frente fria

Finalmente veio a chuva.
Não uma tempestade,
só aquela chuva fria.
Ah, sim.
Fez frio, finalmente.

Tanta gente perguntava
cadê o frio que não chega.
Afinal, é outono.
Parece errado fazer sol, calor
enquanto tudo despedaça e cai.

Fez frio, e choveu,
como tanta gente queria.
Nada muito emocionante,
sem a intensidade da chuva de verão,
da tempestade.

Só a chuva mesmo.

Fui a rua, olhar o mar.
Me perguntava, tremendo,
porque ninguém mais estava lá
sorrindo de frio na chuva.

Não que eu sorrisse.

Afinal, era outono.
Parece errado sorrir,
enquanto despedaço e caio.


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Onishiroi Shonin

terça-feira, 14 de maio de 2019

Logo ali

O fim de semana foi bom.
Bom, mas não perfeito.

Andei pelo mundo como avisei que faria.
Foi bom estar fora do lar
mas me sentir em casa.

Encontrei pessoas queridas
contamos e vivemos belas histórias.
Apreciei um belo gramado, tão verde
mas não me deitei, pareceu errado.

Me cuidei direitinho
não exagerei muito.
Descansei um pouco
para ver outra semana.

O fim de semana foi bom.
Bom, mas não perfeito,
porque estou te contando
o que deveria comigo viver.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 13 de maio de 2019

De dentro da jaula

Parecia um feriado
por conta das nuvens cinza
e dos olhares descansados
dos andares despreocupados.

Mas era dia útil
e era segunda, de todas elas.

Parecia um bom dia
para não fazer nada, ficar...
mas como toda segunda,
as obrigações tiraram o sono
forçaram o banho, a roupa,
o caminho, a seriedade.

Parecia um feriado.

Por isso, no meio da dureza
do dia de concreto e asfalto
sussurrei bom dia na janela do mundo
para que, talvez pelo caos
quem sabe? Do vento
você ouvisse minha voz.


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Onishiroi Shonin

domingo, 12 de maio de 2019

Cachos dourados

O verão veio fora de época
ao menos para mim.
Após tanto tempo de frio
surgiu, súbito, um dia quente,
e era verão.

Aproveitei, a minha maneira.
Caminhei sob o sol
paquerei as nuvens
e mesmo quando dentro de casa
saboreei cada intenso momento
calor.

Foi o verão com o sol
mais dourado
mais belo.

Até que veio um sábado
e, sem graça,
trouxe o frio de volta,
me lembrando que era,
afinal,
outono.

Outono, sempre do seu jeito.
Jogando pedaços de mim pelo chão.


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Onishiroi Shonin