domingo, 24 de março de 2019

Você

Deitei mais uma vez meu coração
no leito de papel, em verso.
Admito, que meus dedos, lentos
estavam cansados das mesmas letras
do mesmo tema
do mesmo sangue.

Mas... mais uma vez.
Não foi escolha, foi tão simples...
uma folha de papel, uma garrafa de vinho
e um tanto de espaço vazio.

Uma poeta me disse, sem me olhar
que poemas deveriam ser profundos
deveriam ser grandes, deveriam ser sobre
Hiroshima. Ou Auschwitz.

Não nego que entendo, e tentei.
Até escrevi sobre a rosa cálida,
sobre o exílio e sobre a neve.

Mas poemas deveriam ser profundos,
deveriam ser grandes, deveriam ser sobre
você.

Mais uma vez, deitei meu coração
no leito de papel, em verso.

Se nada mais, talvez
talvez
nessa noite eu durma em paz.


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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 20 de março de 2019

Vir a ser

Olho fixamente a folha branca.
Dizem-na branca, mas tem linhas azuis.
Dizem-na branca, mas talvez devesse ser
alva?
pela forma como é feita.

Olho fixamente a folha branca.
Procurando,
esperando?
as palavras em tinta preta caírem
surgirem?
brotarem?

Mordo a caneta
despejo a tinta
sem saber como
porque?

Nasce o caos
na ordem alva.


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Onishiroi Shonin