segunda-feira, 30 de junho de 2014

Uma noite perfeita

Estive andando por aí.
Olhando um pouco do mundo.
Parece que nunca vi
o bastante.

Continuo sem ver as estrelas.
Sempre nublado por aqui.
As flores continuaram
se escondendo. Malditas.

O que era cinza continuava
coberto por várias cores
que continuavam sendo
cinza.

Mordi meu velho palito,
o tipo de coisa que não muda.
É bom ter algo firme de verdade
e não esse asfalto feito pedra.

No final da noite achei
uma carrocinha de algodão doce
que me deixou com estrelas no céu
da boca.

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Onishiroi Shonin

sábado, 14 de junho de 2014

Geração Coca Cola

Falaram que não ia dar.
Que gente como eu não
sabia mais o poetar.

Chamaram de tosco,
disforme, sem classe.

Eu chamei de livres.

Falaram que não servia
se não fossem catorze
Alexandres na colina.

Aí eu vi uma pedra
no meio do caminho.
Nunca me esquecerei
desse acontecimento.

Chutei a pedra,
e com ela a métrica,
e chamei o poema
de putaquepariu.


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Onishiroi Shonin

Girassóis

Ando bem caladinho
como se nada tivesse à falar.
Com alguns trejeitos,
um modo estranho de suspirar.
Não fecho meus olhos,
por vezes aponto, penso.

Ando bem caladinho
como se isso nada fosse.
Ando sozinho, pulando
pedras coloridas, linhas.
Por vezes pisando na
placa amarela. Não na grama.

Ando bem caladinho,
bem quieto, sem sorrir.
Passando assim, bobo,
ninguém percebeu
que eu falei das flores.

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Onishiroi Shonin

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Dane-se

Cansei de ouvir canções
me dizendo que não se deve
amar, porque os corações,
sempre vão errar.

Cansei de ouvir fracassos
de feridas sempre abertas,
de nunca cicatrizes,
e eternos abcessos.

Não desperdicem seu tempo comigo.
Existe uma voz
dentro de minha cabeça.

Chamem de estupidez,
vivo com a chama acesa.
Fiquem com sua lucidez.

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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Centro empresarial

Pela janela ele via sonhos
aonde os outros viam nuvens
ou as vezes nem isso.

Nos arranhões ouvia
gritos de revolta contra
a opressão do firmamento,
e mãos de atlas que não cediam.

E via arte e ouvia música
nas pequenas coisas banais
que explodiam seus sentidos
aqui e ali.

Quis escrever um poema
mas o telefone tocou
e lembrou que
só trabalhava ali.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Racionais

Era um menino e uma menina
que não eram mais crianças.
E ele sabia e ela sabia.

E faziam coisas juntos
mas não faziam juntos coisas.
Até que faziam um casal bonito.

Mas ela tinha o dela
e ele tinha a dele.
E ele olhava ela e sabia
que ela sabia, e olhava ele.

Ele era um menino inteligente
mas concluiu estupidamente
que ela, menina inteligente,
inteligentemente concluiria

e fariam coisas juntos.
Mas essas coisas nunca
são tão racionais assim.


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Onishiroi Shonin