sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A evolução da caverna

O mito da caverna. Você provavelmente já ouviu falar dele e, mesmo que não, já o ouviu indiretamente sem nem saber. Inicialmente contado por Sócrates, dois mil e quinhentos anos atrás, o mito visava explicar como o ser humano possui uma capacidade de escolher a ignorância. No mito, a humanidade vive presa em uma caverna, cuja entrada é uma íngrime descida, e em frente a qual brilha uma luz forte que projeta sombras para dentro da caverna. Os que vivem na caverna, acorrentados, passam o dia vendo somente estas sombras e assumem que estas são tudo o que existe. Em sequência do mito, uma pessoa liberta-se de seus grilhões e tenta sair da caverna, no qual sofre pelo esforço da íngrime subida, e é então cegado pela luz forte do mundo real. Apenas após passar por este doloroso processo, ele percebe o mundo de verdade e identifica a real forma das sombras que antes acreditava como verdadeira. Na conclusão do mito, esta pessoa tenta retornar à caverna para explicar aos seus semelhantes que vivem uma ilusão, e que o verdadeiro mundo está lá fora.
Neste ponto ele é feito em pedaços. Claro.
A história deste mito reflete-se indiretamente em dezenas de histórias (como a jornada de auto-descoberta de Alice no país das maravilhas) e diretamente em outras (Matrix um é EXATAMENTE este mito, ponto a ponto, incluindo detalhes que deixei de lado). E em um ponto que acho extremamente interessante, é curioso verificar como o mito permanece atual e a caverna evoluiu em sua forma. Quanto mais tornamos eficientes os meios de comunicação, mais alguns de nós escolhem enfiar-se na caverna. E, assim como os que permanecem na caverna do mito original, acreditamos em nossas escolhas justamente no contrário.
Um caso clássico de caverna são as redes sociais, como o Facebook e o Twitter. Um estudo recente (bit.ly/1Lmodcs) mostrou que o uso passivo destas redes sociais pode inclusive deprimir uma pessoa. Este uso passivo, denominado pela Bianca Pereira no excelente texto “como seria a vida sem facebook e twitter” (http://bit.ly/1ZmbZGN) de Timeline Vortex (tan dan dan DAAAANNNNNN) é nada mais do que mais uma expressão da caverna. Com a suposta ideia de estar atualizando-se com notícias ou eventos sociais, o ser humano para frente a uma lista de conteúdo restrita em origem e novamente restrita em exibição. Isto porque já existe restrição no que cada um posta nestas redes sociais. Seja sincero, você não escolhe colocar na rede social os detalhes sórdidos da sua vida (exceto no caso das pessoas que utilizam o twitter com criptografia para indiretas…), e sim os melhores momentos, ou as notícias inusitadas/engraçadas. Ao acessar a timeline, você visualiza uma pequena fração deste conteúdo já restrito compartilhado por outros usuários, com base nos critérios místicos destas empresas. Critérios místicos cujo objetivo fim é
1) Manter você no timeline vortex indefinidamente (está de saída? Baixe nosso aplicativo e permaneça conectado aonde estiver!)
2) Fazer você clicar em links patrocinados
3) Comprar coisas
O processo deste timeline vortex resulta em pessoas que consideram a vida do próximo mais interessante do que é de fato, recebem passivamente notícias incompletas e não necessariamente verdadeiras nas quais baseiam suas opiniões (qual foi a última vez que você clicou na notícia para saber o conteúdo completo ao invés de ler somente o sempre-bombástico-título?) e, em última instância, procrastinam. As vezes em um movimento “consciente” (“vou só dar uma olhada nas novidades rapidinho, cinco minutinhos” e lá se vai duas horas da sua vida) ou em uma auto-enganação (“uso as redes sociais para me atualizar nas notícias, olha só, doença de chagas no feijão, todo mundo precisa saber disso!”). O resultado final?
Sombras. Sombras projetadas na parede da caverna, defendidas como verdades absolutas. Afinal, como definir quando estamos usando as redes sociais para um fim positivo, e quando estamos usando como uma “caverna”? Isso talvez seja uma pergunta mais difícil de resolver. No estudo levantado, é dito que um uso ativo, isto é, o de quem efetivamente cria e posta conteúdo na rede, não afeta negativamente o humor do usuário. Mas será tão simples quanto avaliar o humor do usuário das redes sociais?
Certamente é mais do que isso. O quão ativamente você busca informação? Você busca referências? Vai além do que lhe apresentam e falam? Clica nos hiperlinks do meu blog? Interage com seres humanos que saibam do assunto? Evita a procrastinação escancarada? Ou contenta-se em saber o que o Caue Moura divulga no giro de quinta, enquanto chama quem assiste novela de alienado?

Bem, neste último caso ao menos você sabe do bebê que morreu de overdose de cocaína. Talvez a caverna não seja um lugar tão ruim assim.


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Onishiroi Shonin

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Reforma ministerial

Então, finalmente saiu a reforma ministerial. Entre o corte de oito ministérios (cabe lembrar que alguns esperavam corte de 10) e a diminuição de salário dos ministros em 10%, incluindo nisto o salário do cargo presidencial (o que tem relação direta com os muitos benefícios dos juízes, mas eu deixo isso para outro dia), porém, uma questão que considero interessante para hoje e foi alvo de debate nos últimos dias envolve a escolha de ministros propriamente dita, especialmente em função dos partidos selecionados.

Se você não estava embaixo de uma pedra nos últimos dias (ou em penedo, aonde aparentemente nenhum sinal de celular e internet jamais chegará), deve ter visto algum debate, especialmente sobre o ministério da saúde. Afinal, este ministério possui o maior orçamento entre os seus pares e muitos consideram que alocá-lo ao PMDB seja uma ação de "vender" o ministério. Por sua vez, a própria presidente(a) argumentou que, sim, a nova distribuição de ministérios visa entre outros ampliar a governabilidade. Como eu sei que você tem uma coceira nos dedos que o faz precisar sair de cima do muro e tomar uma posição, gostaria de explicar um pouco melhor alguns pontos que deve considerar neste tema. Mais uma vez, tentarei ao máximo oferecer uma visão imparcial. Se parecer que eu estou tendendo em alguma direção como melhor ou pior, não era meu objetivo (e possivelmente você estará preenchendo lacunas do texto com sua própria opinião, sinto informar).

Primeiro, é importante ter um geral do funcionamento da máquina pública. Não vou entrar em detalhes agora (prometo um texto no futuro sobre o tema), mas basta sabermos que a presidente(a) não tem poderes absolutos. A direção geral do país depende de uma série de grupos, um com poder de veto sobre o outro. Embora haja processos diferentes para vários tipos de propostas diferentes, pode ser dito em uma linha geral que para quase qualquer coisa acontecer é necessário que os senadores, deputados e a presidente(a) estejam em concordância. Mais ou menos. Assim, a presidente pode por exemplo colocar algo para funcionar imediatamente via medida provisória, mas o congresso pode derrubar essa medida no dia seguinte. Por sua vez a presidente pode vetar uma medida do congresso, mas o congresso pode posteriormente derrubar o veto. Essencialmente, se um destes poderes quiser fazer algo, depende de uma certa boa vontade do outro. Se um deles quiser impedir o outro de fazer qualquer coisa, consegue. O poder da presidente(a) é relativamente maior, mas principalmente por ser somente uma pessoa (de forma que uma decisão presidencial depende "unicamente" dela, e não da votação de várias pessoas) e outras vantagens. Uma destas, a indicação de ministros, uma vez que a presidente(a) tem poder absoluto sobre esta decisão. Os ministros, por sua vez, tem uma parcela de poder significativo, dentro de certos limites. Embora o congresso e o senado possam influenciar o orçamento e o que pode ou não ser feito mediante legislação, um ministro e sua equipe tem relativa liberdade para como executar sua função.

A facilidade de trato entre a presidente(a), o congresso e o senado é chamado de governabilidade. Assim, se estes poderes estão continuamente em conflito, diz-se que o governo tem pouca governabilidade, pois nenhum deles consegue avançar com qualquer medida, uma vez que os outros poderes o vetam. Ao serem vetados, passam a vetar o poder dos outros como uma forma de pressão (caso em que por vezes um deputado pode votar contra medidas que seria normalmente favorável unicamente para criar pressão em favor das próprias medidas). Além do conflito entre os poderes distintamente, também existem problemas em função da estrutura interna de cada poder. Assim, se a câmara de deputados possui muitos membros de partidos diferentes e nenhum deles possui maioria, ou os partidos presentes tem conflitos internos, mesmo internamente eles não caminham em uma direção única. Já quando existe apoio de um lado e outro, diz-se que existe alta governabilidade. Independente da qualidade, as propostas avançam mais rápido e existe menos disputa interna. Nessa linha, cabe observar que quanto maior o partido, mais grupos internos ele possui. Assim, enquanto partidos menores (como o partido verde, por exemplo) possuem bases relativamente sólidas, e é comum que os membros do partido votem de forma similar, partidos muito grandes como o PMDB, PT e PSDB possuem círculos dentro de círculos e alguns grupos podem ser favoráveis a certas medidas e outros não. Como um exemplo interessante, o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha, apesar de pertencerem ambos ao PMDB, frequentam círculos diferentes dentro do partido (o que não significa que são opositores um do outro, mas que podem defender opiniões bem diferentes em alguns casos).

Este ano o nosso governo teve, até o presente momento, uma baixíssima governabilidade. Isso é uma consequência direta do que vimos nas urnas presidenciáveis, pois a cisão de votos estendeu-se por todas as esferas, de forma que nenhum partido ou grupo pode se gabar de uma presença significativa, embora ainda assim alguns partidos tenham uma posição mais ampla que outros. A verdade é que este ano pouca coisa foi para frente fora das esferas em que existe autonomia (o banco central e o copom, por exemplo possuem autonomia relativa e conseguem seguir adiante com suas estratégias, mas ainda assim tem limites), e dentro da máquina pública, o pouco que foi para frente normalmente saiu pela metade, por ter sido executado com concessões para sua aprovação. Em parte, isso ocorre pela diferença de visão de alguns membros do governo (em mais um exemplo, existem aqueles na câmara que acreditam que o ideal para recuperação da economia é o corte de gastos públicos, enquanto outros acreditam que isso diminuiria o investimento e o ideal é aumentar impostos e aumentar a arrecadação, e uma outra parcela acha que não existe crise e muito mais importante é legalizar o comércio livre de maconha), em outra porque alguns membros estão deliberadamete dificultando as coisas. No grupo de dificultar deliberadamente existe uma parcela significativa do PMDB, grupos dentro do PT (que conforme amplamente dito nos últimos anos, sofreu graves cisões internas) e o PSDB, que tem uma posição de conflito direto com a presidente(a).

Aqui cabe observar que este tipo de conflito não é meramente birra para fazer o outro lado parecer mal. É perfeitamente possível que isto ocorra com o que cada um acredite ser "o bem maior". Por estarem plenamente ciente destes conflitos internos, os envolvidos sabem que qualquer coisa só pode ser alcançada mediante certas concessões. E nisto cada um tenta utilizar seu poder para forçar o outro lado a conceder o mais possível e, por sua vez, limitar as concessões que tem que ceder. Um caso similar ocorre nos estados unidos e foi muito citado pouco após a re-eleição de Barack Obama, por ter ficado em uma situação aonde a maioria do congresso era de outro partido, gerando baixa governabilidade. Voltando ao nosso caso, ainda citando a relação aumentar-imposto/diminuir-custo, cada lado está ciente que se fincar o pé seu lado não vai passar e ponto. Assim, um tenta negociar com o outro para tentar meios termos. Estes meios termos vão naturalmente pender para os lados que tem maior poder de voto. Claro que não digo com isso que todos os envolvidos estão genuinamente tendo como base o bem maior, e obviamente existem interesses pessoais em pauta. Contudo, acreditar que todo o conflito é unicamente por causa de interesses pessoais e motivos mesquinhos é infantilidade (se nossa máquina pública efetivamente fosse assim, teríamos uma situação muito pior em nosso país, acredite).

E aí então, qual a relação disto com os ministérios? Para facilitar, vou citar somente o ministério da saúde que é o mais polêmico devido ao seu vistoso orçamento. Desde que chegou ao poder, o PT tem mantido este ministério sob sua alçada, tendo no seu comando um membro do partido de confiança (relativamente). Com isso, foi possível utilizar o poder inerente deste ministério para uma série de políticas sociais que eram objetivo do partido, por vezes entrando em campos que podiam ser considerados apenas marginalmente como sendo de real interesse do ministério da saúde. Se este tipo de política é feito por um ou outro motivo não cabe à mim decidir em um texto não opinativo. Contudo, existe divergências políticas sobre se estas decisões são ideais ou não. Alguns defendem que a forma de gasto do ministério atualmente é insustentável, por focar em medidas que tem resultado imediato mas não são sustentáveis. Um caso clássico que gerou opiniões distintas até dentro da comunidade médica foi o programa que trouxe médicos cubanos (e outros) para atender regiões carentes. Alguns alegaram que isto diminuía o valor do médico nacional e que resolvia um problema agora, ao tempo que gerava um alto custo que poderia ser utilizado na formação de mais médicos que poderiam, no futuro, resolver o problema de vez ao invés de uma solução temporária. Outros defendiam que era sim necessário o programa para estancar o problema imediato enquanto ao mesmo tempo se foca na formação de mais médicos e cria-se estímulos de longo prazo para a carreira. Entre outras dezenas de opiniões distintas. Assim, dependendo da visão que certos grupos possuem do que é melhor para este setor, ter um membro do partido chefiando este ministério pode tornar esse grupo mais disposto a aceitar as outras propostas com as quais normalmente não concordariam, como uma forma de troca.

"Como assim Moisés, eles não querem só poder roubar no lugar que tem mais dinheiro?" Impressionantemente, não. "Ah, Moisés, você é muito ingênuo de achar que esses caras visam o bem maior e não possuem unicamente interesse próprio." Sinto lhe informar, mas então ingênuo és tu por acreditares nisso. Fosse corrupção o ÚNICO motivador de um grupo, sua derrubada ocorrerá de forma tempestiva e unicamente pela própria mão. Não nego que isto seja um interesse possível, mas ninguém em tal esfera de poder pode ter foco somente nisto. A razão é simples. Esta prática seria insustentável. Considere o caso do banco cruzeiro do sul, no qual após o início de corrupção ativa pelos seus diretores, o banco iniciou uma espiral acelerada para a própria falência. Não defendo que tenhamos um grupo de anjos bem intencionados na política, ou mesmo que haja uma única pessoa completamente honesta no meio. Contudo, se não houvesse a defesa de posições com alguma base em resultados, o país já teria há muito tempo degenerado em um nível irrecuperável. Assim, acreditar que a corrupção é tudo que existe e o único problema, ou que ela não existe em absoluto (haha) é acreditar que trocar a sua foto no facebook pela de um desenho animado no mês de outubro cura as crianças do câncer.

Por hoje encerro. Pretendo ficar um tempo sem falar de política por agora, para não ficar maçante para todos os meus sete leitores. Caso você tenha interesse em perpetuar este tipo de discussão, ou queira outro tipo de tema, favor informar nos comentários. Se tem algum interesse em tornar essas publicações mais frequentes, curta e compartilhe. Nada é mais inspirador para um escritor do que o feedback do público (por favor, evitem arremessar objetos como foram de feedback).

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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Política brasileira e Game of Thrones

Como alguns sabem, eu gosto de política. Acompanho votações, propostas, e desdobramentos. Não continuamente, pois eu continuo tendo outras atividades (como o trabalho) e hobbies (como tricotar). Mas eu acompanho política com certa proximidade e, aparentemente, mais proximidade que metade dos jornalistas políticos que conheço. E as vezes, eu admito, minha cabeça dá um nó.
Vamos lá. Uma das primeiras coisas interessantes que considero na política é que uma observação cautelosa demonstra logo que existem políticos articuladores (por exemplo, Jandira Feghali) e outros que são massa de manobra. Os articuladores normalmente possuem sob sua “asa” alguns outros membros (senadores, deputados, vereadores) que vão seguir sua opinião, e a capacidade de fazer com que alguns dos “votos perdidos” (como gosto de chamar os que não necessariamente seguem o voto de uma pessoa específica) fiquem de seu lado. A massa de manobra é uma espécie de gado eleitoral (gado inception!).
Agora, uma outra coisa interessante. A maioria dos políticos (quase todos desse grupo são parte da massa de manobra, aliás) não entende muito bem o que está fazendo. Quer dizer, sejamos francos. Você REALMENTE ACHA que o Tiririca entende as dimensões que a CPMF pode ou não tomar? Essas pessoas precisam ser convencidas ou compradas. E enquanto alguns seguem seus articuladores diretamente, outros vão sendo convencidos caso a caso. E isso leva a outro ponto interessante.
Estratégia. Coisas insanas acontecem na política. Aquele parlamentar que faltou dúzias de sessões na verdade pode estar fazendo isso por estratégia. Certas votações precisam de quórum mínimo. Por vezes, quando certos grupos percebem que não terão votos o suficiente para conseguir o que querem, eles deixam de assinar a presença no dia apesar de participarem do debate. Com isso, podem adiar votações para tentar angariar mais votos ou ao menos pressionar o outro lado de que não irão conseguir enquanto não cederem em alguns pontos. Vírgulas da lei são utilizadas como argumentos contrários ou favoráveis para pressionar as pessoas. Cargos são prometidos a inimigos por causa de uma emenda em particular, membros de certos partidos aceitam serem feitos de cristo para protegerem outros, enquanto outros assumem a postura de ofensores para desacreditar outros grupos. Enfim, uma trama complexa de eventos infindos com base no poder de voto que essas pessoas possuem. E, pasmem, nem sempre isto é utilizado com foco no benefício próprio como podem acreditar. Existem movimentos políticos extremamente elaborados e aparentemente egoístas que visam o bem maior (acredite).
E com isso, as vezes, minha cabeça dá um nó de acompanhar política. Por isso eu fico pasmo quando descubro que existem pessoas que não tem nenhum interesse neste assunto, mas acham que Game of Thrones e House of Cards são interessantes por causa da intriga. Bitch, please. Não dá nem para começar. Vou te contar um segredo. A ficção pode ser complexa, mas a vida real sempre é mais complexa que a ficção.

Exceto se estivermos falando de Metal Gear. Metal Gear é mais complexo que a realidade, que a política e que os binômios de Newton. Juntos.

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Onishiroi Shonin

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Eu lírico

Tenho livros, ce-des e de-ve-dês
(ouvi falar que estão ficando
fora de moda).

Tenho também um três em um
que toca meu vinil.

Tenho um amor, uma dor e uma lágrima
(dessa falam muito, parece
que está sempre em voga).

Tenho também um álbum
nele nenhuma foto.

Tenho sonhos, loucura e gargalhadas.
Na sopa de letrinhas de uma vida
pontos como os outros.

loucura.

Tenho versos

e loucura.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

dezessete e pouco

A vida começou quando a música parou.
Ah, antes houve algo, sim, um bocado
um estouro diria, bastante mas não
a vida. A vida começou depois
que a música parou.

E antes eu dancei um tanto mesmo
sem saber nenhum dos passos.
Fiquei no salão com os outros
que me acompanharam no baile.

Um bocado invejoso fui talvez
dos que pareciam saber cantar
seguindo a letra com a voz
e os acordes com os pés.

E como os outros no baile eu também
era um adolescente apaixonado.
E vi quando minha paixão seguiu
nos braços de quem conhecia os passos.

Muita coisa aconteceu antes
mas a vida realmente começou
quando a música
parou.

Eu parei de dançar
e comecei a andar.


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Onishiroi Shonin

domingo, 12 de julho de 2015

Ei, eu rimo quando quero!



Poderia discorrer longamente sobre o porque não faço isso sempre (acredite, é de propósito que criei uma forma de escrever que erra a rima sem querer.... sim) mas isso é coisa para uma prosa razoavelmente longa e...

isso me leva à questão! Eu TENTO não ser um pé no saco. Sério. Eu me esforço para isso. Eu não fico marcando você na minha página nem quando compartilho minha mensagem. Eu não convido você para curtir minha página (eu SEI que você já curtiu umas 20 páginas assim). Essencialmente, eu pego leve.

Então... colabora! Eu não ganho nada com a casa de papel, nem pretendo, sinceramente. Este blog/página do face é somente para compartilhar poemas e conteúdo aleatório. Eu realmente quero fazer o conteúdo ser mais constante. Para isso eu preciso, simplesmente, de mais motivação.

Sim, é uma coisa da minha arte. Ela depende de vocês em uma forma quintessencial (você talvez não saiba, mas tudo isso começou com um evento anos atrás quando uma pessoa me falou um poema, somente um). E, sinceramente, eu poderia despejar uma mini-fortuna em publicidade. É um dos poderes do hoje em dia que fazem merda parecer brilhar como ouro (#vivaavidareal para quem lembrar da pior campanha de marketing de 2014). Mas ainda na linha da sinceridade, antes de me meter a besta eu preciso de feedback.

I mean, TRULLY, você gosta desses poemas? Ou dos comentários sobre política e economia? Ou das crônicas (coitadas, escrevi só três aqui)? Então faça um barulho. Compartilhe! Curta! Cite um amigo/a que pode gostar do conteúdo. Eu atualmente não publico a maior parte do que "produzo" por não saber o que querem. Eu escrevo vários poemas que não chegam a ser publicados, acompanho questões políticas que não me dou ao trabalho de discorrer no blog e...

eu trabalho com mercado financeiro. Eu poderia falar sobre esse assunto durante alguns dias sem parar para respirar e ainda não teria ficado cansado... e está LONGE de ser meu assunto favorito.

Pode parecer #vendervendervender mas não é isso. Eu QUERO produzir conteúdo. Conteúdo de qualidade. Conteúdo que cause valor, que inspire. Conteúdo que você pega para carregar consigo para casa e pensar e refletir, que te faz debater no bar... ou conteúdo que você leva para os amigos como sendo legal... ou que você recita para a/o mulher/homem amada/o falando de amor (ou como preliminares, como "Flower Tattoo" tem o poder de ser...). E a verdade nesse tema é que faço esse conteúdo porque quero compartilhar este conteúdo. Não planejo ganhar com ele. Ou viver disso (eu vivo de explicar para pessoas como investir, quando investir, como declarar seu imposto de renda e o que fazer quando as três coisas acima dão errado). Mas a abrangência de conteúdo e a frequência dependem de vocês.

Eu posso produzir tanto e quanto e sobre e como vocês quiserem. E para definir o que e como e quanto e sobre... eu preciso de feedback.

Então comente e compartilhe. Isso é mais importante para mim que o curtir, sério. Quando você fala com suas palavras o que gostou ou não, quando divide com outras pessoas e me permite ver a opinião de gente fora do círculo da página comentando o post, essas coisas agregam ABSURDAMENTE na minha produção. E daí, com feedback, com o refinar da opinião de vocês, eu posso ir além.



Em nota... eu sei que muita gente odeia textos tão absurdamente longos... mas aceitariam vídeos. Eu sinceramente sou contra reduzir os textos (ao menos as prosas, os poemas já são curtos e em formato de imagem para facilitar o compartilhar, mas isso é outro tema no qual posso debater AINDA MAIS LONGAMENTE) mas sou a favor da conversão em vídeo/aúdio. Isso envolve maior esforço/custo/engajamento meu. É isso que você quer? Então faça um barulho sobre isso. Eu trabalhei como analista de ouvidoria durante anos, confie em mim.

Barulho
resolve
;-)


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Onishiroi Shonin

Apoliníaco

Eu tenho rimas, algumas,
não tantas, eu sei
como as pessoas salvas
pelos salmos do rei.

Algumas, pobres,
na linguagem violentada,
são vítimas entorpes.
meramente a pedra usada.

E eu tentei, eu grito
que apolo ser mais.
Fiz disforme, eu insisto,
quebrei, tirei a paz.

Mas mesmo assim, as musas
rainhas se fizeram,
dão à minha mente asas
e a gramática quebram.

Então que se foda.
Eu rimo quando quero.
Sigo a vapor toda
sem nenhum lero lero.


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Onishiroi Shonin

sábado, 27 de junho de 2015

Heroes IN the storm

I drank some whiskey
to live more risky
I want to go a little crazy tonight.

I got my keyboard
and neon mouse pad
in multiplayer gonna do my part.

Dj is deezer
I choose the seer
to foresee when the mob is a lie.

My team is 1337
the foe we sweep
our teamplay guaranteed by skype.

The king of mobas
from ice ages.
On the past we just laugh out loud.


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Onishiroi Shonin

terça-feira, 16 de junho de 2015

Reforma Política II

Então crianças. Já debatemos a reforma política por aqui. Contudo, o caso continua rolando na câmara, com uma série de mudanças possíveis significativas e, mais uma vez, gostaria de esclarecer alguns tópicos interessantes sobre o assunto.

Primeiro cabe informar o que quero dizer com "caso continua rolando". Sei que muitas pessoas não compreendem detalhe por detalhe os trâmites da nossa política e, vez por outra, divulgam como fato algo que foi votado na câmara. Nessa linha, é importante notar que:

Até o presente momento nada do que foi votado na pauta da reforma política está em vigor, nem está certo de ficar.

Yup. Isso aí. Agora explicando melhor... a reforma política está sendo elaborada via uma PEC (proposta de emenda constitucional). Como descrevi anteriormente, este processo envolve várias etapas de votação com necessidade de aprovação tanto pelo senado quanto pela câmara federal (no senado ficam os senadores, na câmara federal os deputados federais. Os deputados estaduais ficam... nas câmaras estaduais, que votam coisas regionais, essencialmente). Até o presente momento os itens que estão sendo votados são meramente os que irão compor efetivamente o texto final da PEC (através dos chamados "Apensados à PEC"... mais ou menos). Então ainda é possível que após tudo ser decidido o resultado final seja recusado, e acabe tendo que ser alterado. Enfim, é um longo processo.

Independente disto, é importante acompanhar o que foi votado até agora e o que está em discussão. Porque? Salvo falha de minha memória, "Reforma Política" era um dos itens mais requisitados nas manifestações recentes. Após o profundo ragefly nas ruas e na internet contudo, começo a considerar que muitos dos que exigiram reforma política não pararam para definir ou considerar muito bem O QUE É reforma política. Até porque, reforma por reforma, até transformar o país em ditadura seria uma forma de reforma (perdão pela cacofonia), mesmo que não necessariamente boa. E por isso mesmo é importante o segundo ponto que acho que todos devem considerar.

Muitos pontos do que está sendo votado podem ser do seu interesse ou não. Mas são coisas que afetarão sua vida queira ou não e que são de entendimento direto sobre se você concorda ou não (já que certas votações as vezes nem eu sei dizer se sou a favor ou contra com certas nuances). E é fácil acompanhar o seu deputado com um rápido cadastro no portal da câmara ( bit.ly/1Gcl1rD ) e verificar todas as votações de cada um desde... well, sempre ( bit.ly/1cZ6zNo   -   Basta selecionar o deputado que votou ou pesquisar os deputados por partido, tem todas as informações dele/a e pode ser selecionado uma opção para ver tudo que ele/a votou, propôs e fez na vida). Nesse mesmo link anterior também tem como mandar mensagens para os deputados. Para que tudo isso? Bem, se você concorda ou discorda de algo na pauta dessa longa PEC, pode começar a filtrar os deputados que concordam mais com sua opinião, ou mesmo opinar sobre seus pontos de vista. E sim, pressão pública funciona. Acho que já ficou bem claro que eles estão a fim de ver se paramos de nos manifestar indo às ruas (porque acho isso? a PEC de reforma eleitoral está em pauta faz oito anos mas com os eventos recentes de repente decidiram acelerar o processo...). Enfim, vamos agora listar algumas das propostas votadas para saber o que pode vir a mudar, e mais importante talvez, o que foi votado para NÃO mudar.

1) Distribuição de votos: Atualmente vereadores e deputados são eleitos por um sistema proporcional. Assim, as cadeiras são distribuídas pelos partidos pelo total de votos de cada partido e então pelos mais votados dentro do partido. Isso significa que se o partido A tiver um total de 90 mil votos e um partido B tiver 10 mil votos, o primeiro terá 90% das cadeiras, mesmo que 89.900 votos tenham sido somente para um candidato. Isso não mudou, todas as opções alternativas propostas foram negadas e provavelmente nada de novo entrará nessa linha.

2) Financiamento de campanha: Verificar o post anterior sobre o assunto algumas semanas atrás ;-)

3) Reeleição: Especificamente, reeleição de cargos executivos, isto é, Prefeitos, Governadores e Presidente/a (já que insiste). Atualmente todos estes podem se reeleger uma vez em sequência. Com a nova proposta, nenhum deles terá direito a reeleição, sendo obrigatória a troca a cada mandato. Quem foi eleito em 2014 ou for em 2016 ainda terá direito a uma reeleição (salvo aqueles que já estiverem concorrendo para reeleição, como a presidente/a atual).

4) Coligações: Como todos sabem, múltiplos partidos podem se unir em uma frente única (unidos pela democracia e bons costumes S/A). Quando o fazem, apóiam um único candidato aos cargos executivos e os cargos que tem eleições proporcionais (item 1) contavam todos os partidos da coligação como um só para decidir as cadeiras. Foi votado uma proposta de impedir estas coligações nestes casos mas a mesma foi recusada (246 contra, 206 a favor). Nada muda então.

5) Acesso ao fundo partidário: O acesso ao fundo público para campanhas tinha um percentual que era oferecido a todos os partidos, mesmo que não colocassem candidatos próprios em alguns segmentos (o que permitia a um partido entrar em uma coligação e não eleger ninguém do próprio partido, somente aumentando a cota do fundo partidário disponível a coligação como um todo). Essa regra foi alterada e agora, para ter direito ao fundo partidário, é necessário concorrer com candidatos próprios e conseguir eleger ao menos um parlamentar.

6) Duração dos mandatos: Atualmente os senadores tem mandatos de 8 anos (não sabia disso? Eles também tem uma forma de reeleição misturada que nem vale a pena citar agora) e os outros cargos, quatro. Isso foi alterado e todos os cargos terão mandatos de cinco anos (back to the past). Haverá situações intermediárias enquanto se faz a transição e no fim, os eleitos de 2020 em diante estarão todos enquadrados na nova regra.

7) Eleições alternadas: A cada dois anos votamos alternadamente segmentos do governo. Foi votado uma proposta de eleições coincidentes, assim seria só uma votação para tudo a cada ciclo. A alternância contudo foi mantida (mas deixará de ser a cada dois anos e passará a ser a cada dois e três anos em função do tempo de mandato previamente citado).

8) Voto obrigatório: Foi votado o voto facultativo (que tanto vi sendo requisitado). Contudo, o voto continua obrigatório para maiores de 18 anos (311 votos mantiveram o voto obrigatório, com 134 solicitando voto facultativo e 3 abstinências).

9) Idade para eligibilidade dos cargos: Atualmente, deputados precisam ter pelo menos 21 anos, governadores 30 e senadores 35. Todos estes tiveram redução e poderá se candidatar a deputado quem tiver 18 anos e os outros cargos terão mínimo de 29 anos. Cabe lembrar que os pré-requisitos para elegibilidade são somente idade, saber ler e escrever (embora haja dúvidas no caso de certos comediantes eleitos) e ter ficha limpa (mais ou menos).

10) Data da posse: Atualmente governadores e presidente/a empossam o cargo em primeiro de janeiro. Com a proposta votada, passarão a empossar em dia 4 (governadores) e 5 (presidente). Agora você poderá assistir a posse sem a ressaca do ano novo. Curiosidade? Em função do cargo da atual presidente/a terminar em 31 de dezembro por estar no regime atual de lei, nos primeiros quatro dias de 2019 o cargo será ocupado pelo presidente interino legal na ausência do presidente e do vice, o presidente da câmara dos deputados.

Ufa. Isso é o que temos até agora. Ainda pode ocorrer alterações, assim como todos estes itens dependem de aprovação do senado. Como disse, todos os detalhes podem ser acompanhados no portal da câmara, aonde pode-se inclusive encaminhar suas próprias propostas (embora não tenha nenhuma relação com minha pessoa, por favor, sejam educados.E eu sou somente um cara que escreve coisas na internet, não um jornalista (estes os quais por vezes são muito mais tendenciosos...)).

Ja-ne. Você realmente leu isso tudo?

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Onishiroi Shonin

domingo, 14 de junho de 2015

I'm that badass

Eu ando pelas ruas
com uma mochila nas costas
cheia de livros de rpg.
E dados.

Eu não bebo coca cola
que nem o cara legal da música,
mas nas mãos eu tenho um subway.

É um dia lindo de amarelo e azul.
Tenho uns cartões no bolso
e piadas ruins para toda situação.
Toca música no meu ouvido
que me impede de te ouvir.

E eu ando pelas ruas.
Sobre o asfalto e sob as montanhas.
Nem sempre nessa ordem.

Eu sei onde vou
e como.
Eu sei quando volto
e para onde.

E eu não consigo nem mesmo
piscar
sem ser em verso.


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Onishiroi Shonin

sábado, 6 de junho de 2015

Quebra do mar

Fui aonde o mar quebra.
Sim. De novo.
Minha estrada sempre volta aqui,
aonde a mesma começou.

Lá havia o de sempre.
As mesmas pedras, as mesmas ondas.
Os que andavam de pés no ar
e os que voavam.

A estrada que me traz
não trouxe essas pedras.
Elas já estavam aqui, testemunhas
de quando éramos só sorrisos.
Que tolo sou.

Aqui o mar quebra
e é o que ele faz.

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Onishiroi Shonin

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Financiamento de campanha e reforma política

Olá de novo pessoal. Recentemente houve um ragefly na nossa web quanto a votação da câmara sobre a forma de financiamento por empresas à campanhas políticas. Nesse processo vi mais uma vez, como costuma ser nessas ocorrências, várias pessoas cometendo contradições ou contestando pontos não realmente dentro do tema. Nisto incluo, infelizmente, alguns blogues de jornalistas e formadores de opinião de forte penetração na rede. Apesar de reconhecer minhá ínfima penetração na maravilhosa rede mundial de computadores (de acordo com as estatísticas, esse blogue e página de face somados alcançam cerca de 150 visualizações por semana), venho mais uma vez tentar fornecer um parecer mais profundo da questão com o máximo de imparcialidade que puder. Meu objetivo, como sempre, é permitir aos meus queridos/as leitores/as o conhecimento de causa para debater este tema adequadamente nas mesas de bares onde sei que seus assuntos favoritos são política, religião e futebol (curiosidade aleatória: minha playlist em shuffle eterno escolheu exatamente o momento em que escrevia a palavra "futebol" para começar a tocar "É uma partida de futebol" do Skank. Weird).

Desde a reeleição da Presidente/a Dilma (existe um sério debate sobre a inclusão de gênero nessa palavra) um tema muito levantado pelo público foi a reforma política. Por reforma política, exigiu-se, entre outros, a apreciação e votação de uma série de propostas de leis e emendas constitucionais (doravante, PEC) que foram feitas anos atrás e deixadas na gaveta. Um bom resumo sobre o andamento do processo pode ser visto no site de notícias da câmara, que recomendei que seguissem eras atrás. Para quem quiser, pode consultar um dos resumos mais recentes sobre o assunto no link http://bit.ly/1Qgjnw3 . Anyway, neste momento o foco em específico é a questão do financiamento eleitoral.

Recentemente foi aprovada uma PEC que define o financiamento ocorrendo de forma mista, com financiamento público pelo fundo partidário, e privado por doação de empresas e pessoas físicas. Assim que votado, milhares de pessoas súbitamente surgiram na rede resumindo toda a proposta aprovada a dois fatos:
1) "Oficializaram a corrupção, as empresas agora vão usar seu poder financeiro para garantir a eleição de candidatos comprometidos a passarem as propostas de seus interesses!"
2) "Eduardo Cunha é um canalha, a proposta havia sido recusada no dia anterior e ele colocou ela para votação no dia seguinte comprando mais votos para aprovação sem respeitar o prazo mínimo para nova apreciação, #foracoxinhas #comunismoforever #guevaravive "
(tentei ser fiel ao representar o que vi na rede)
Now now now... vamos tentar ver melhor o que foi votado. Novamente, não estou defendendo, nem atacando o que foi votado. Na verdade, o meu incômodo nasce de duas questões principais.

1) Em muitos casos de pessoas que postaram no face a indignação com a aprovação do financiamento privado, rolando a timeline via-se no passado igual indignação quando foi feita uma proposta que proibia o financiamento privado e tornava legal somente o financiamento público, com direito ao uso constante da frase "Defendido pelo PT, financiamento de campanha 100% público só existe em um país" (acha que estou exagerando? bbc.in/1FkMclH foi noticiado assim pela BBC em 30/03/2015). Oras, se achavam um problema o financiamento exclusivamente público... não é contraditório agora contestar a proposta de financiamento misto?
2) Odeio destruir a realidade. Sério, não gosto da cara que as pessoas fazem quando falo que, ao contrário de seus sonhos, Dom Pedro não estava montado em um corcel branco ao declarar independência, e que o Ipiranga era somente um córrego, e que relatórios militares indicam que ele estava no meio de uma caganeira. Mas, sobre o financiamento de campanhas... então... ele já é feito de forma mista. E na verdade foi até limitado. A PEC somente oficializa algo que já era possível. Ok, eu dou um tempo para a ficha cair aí. O texto vai continuar aqui quando você voltar.

Vamos em frente? Certo, vamos então detalhar melhor EXATAMENTE o que aconteceu? Ok.

Antes da votação das múltiplas propostas, os partidos recebiam dinheiro do fundo partidário de acordo com determinadas proporções (financiamento público), e pessoas físicas e jurídicas (AKA, empresas) podiam realisar doações para partidos e/ou para CANDIDATOS (financiamento privado). Isso significa que as doações podiam ser realizadas para o partido utilizar como quisesse, ou diretamente para um candidato, de forma a ser utilizável somente para a campanha do próprio e foda-se o partido. Cabe lembrar, estamos falando de doações com o objetivo único de utilização para a campanha eleitoral.

Houve então a proposta de financiamento exclusivamente público. Nesta proposta, havia a ideia de aumentar o valor total do fundo eleitoral e algumas mudanças na forma como ele é distribuído. O conceito neste caso defendido era de que esse processo impediria que o poder privado pudesse comprar posições (certo, uma doação para a campanha não compra uma eleição... mas se um candidato tem 10 milhões para gastar em sua campanha e outro tem 100 mil, o primeiro costuma ter uma certa vantagem. Pergunte para o Gabeira quando ele tenta concorrer para cargos no executivo). Contestações à esta proposta incluiam o fato de que, pela forma de distribuição do fundo os maiores partidos teriam uma certa vantagem (o que, por nota, acontece de uma forma ou outra); o fato de que isso aumentaria o custo eleitoral para os cofres públicos; o fato de que o único outro país no mundo que usa esse método é o Butão; e, nas palavras do deputado Mendonça Filha (do DEM de Pernambuco): "Ficar sem doação legal de empresas em campanhas é incentivar o caixa dois, é fomentar o sistema de financiamento ilegal". Essa proposta foi rejeitada de forma esmagadora (343 votos contra, 56 a favor e 58 abstenções. Quem votou no que pode ser visto também no site da câmara). A opinião pública também foi bem contra na ocasião.

Houve então a proposta de financiamento pelo fundo partidário e de pessoas físicas, somente, vetando a doação de empresas. Essa votação tramitou sem praticamente nenhuma repercussão pública, sendo também rejeitada com maioria de votos contra. As contestações deste modelo são similares às da anterior e não necessariamente dentro do ponto principal deste texto.

Aí, ocorreu a votação de proposta que constitucionalizaria o processo como ele atualmente é, financimento público e privado para partidos e candidatos. Esta proposta manteria as coisas exatamente como ocorrem agora, apenas tornaria o processo constitucional, uma vez que atualmente ele é meio vago. Essa proposta foi negada com 264 votos a favor, 207 contra e 4 abstenções. Não, eu não digitei errado e você não leu errado (eu acho). A proposta realmente teve maioria de votos a favor e foi negada. Isso porque uma PEC, para ser aprovada, não pode ter somente maioria de votos. É necessário que o total de votos a favor seja de pelo menos 308 (3/5 dos deputados). A PEC é votada em dois turnos, com intervalo de cinco sessões entre cada votação, e precisa ganhar nas duas votações. Logo depois foi votada proposta muito similar, o que gerou uma fúria geral pois não foi respeitado o intervalo mínimo da votação, sendo considerado tal ato como uma quebra da regra pelas mãos do Eduardo Cunha (presidente da câmara, e responsável por fazer a proposta ser votada). Já este defende que a proposta era cabível de voto devido ao fato de ser uma emenda aglutinativa, alterando o conteúdo da proposta. Essencialmente, é uma nova proposta. Se Eduardo Cunha está certo... bem, existem argumentos que dizem que não podia ser realizada a votação, e argumentos dizendo que podia, ambos com embasamento legal. Haverá discussão STF sobre o assunto e eles vão decidir.

Essa "nova proposta" altera um pouco a regra atualmente praticada. A alteração fica no ponto que as empresas, embora continuem podendo realizar doações para campanhas do partido, não poderão realizar doações diretamente para candidatos. Pessoas físicas continuarão com esse poder. Essa proposta foi aprovada, com 330 votos a favor. Como pode se observar ela efetivamente altera uma regra. Interessante notar que entre seus contestadores, existe quem não tenha nada contra o conteúdo da proposta, somente defenda que ela não deveria ficar na constituição e sim ser somente uma lei (nisto inclui-se a Jandira Feghali. Nenhum motivo particular para citar ela nisso, só achei interessante a contestação dela ser isso).

Então... falei um bocado, e nem falei tudo sobre o que está acontecendo na "reforma política". Espero, contudo, ter elaborado melhor partes desse processo e auxiliar na formação de opiniões concretas e bem fundamentadas no inevitável debate político que certamente vossas pessoas pretendem ter na mesa do bar deste sábado vindouro. Comentários, contestações (e palavrões, eles as vezes ocorrem), por favor, coloquem aí abaixo. Caso tenham interesse em esclarecimento sobre outras questões e eventos (alguns bizarros) dessa nossa política, podem perguntar também. Jurisdiquês é reconhecidamente um dialeto complexo.

Ja-ne. Afinal, qual é o problema?

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Onishiroi Shonin

Hit de verão

E foi verão o ano todo
ou foi como se fosse,
um longo ano, de longo
eterno
verão.

E foi quando nos vimos
e como jovens que éramos,
foi quando nos apaixonamos
ao som das músicas de verão.

E foi um belo verão.
Éramos tão jovens.

Dançamos a dança, giramos.
Cantamos a canção.

Mas o ano acabou.
O verão se foi...
e você seguiu em frente.

Fiquei aqui, em frente ao mar,
até hoje, ouvindo
as músicas de verão.

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Onishiroi Shonin

quarta-feira, 27 de maio de 2015

6 AM

Esse é o tipo de manhã
em que se a escolha fosse minha
(mas a escolha é do gás e da luz,
do dono da padaria
e de quem dita o rumo da economia)
debaixo do chuveiro
(da água quente)
eu nunca sairia.

Mas a escolha não é minha.
Por isso sair
e fingir que fui eu que decidi.


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Onishiroi Shonin

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Trabalhando

Fazendo contas e ativo
sem parar, ou piscar.
Café, para manter vivo
o raciocínio, o digitar.

Toda uma aparelhagem
acessória, essencial.
A mente numa eterna viagem
desligada do bem e do mal.

Fazendo contas, e mais
e mais...

e paro. Essa música
me lembra de você.

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Onishiroi Shonin

terça-feira, 31 de março de 2015

E ainda nem é Abril

Queria estar fazendo declarações de amor
mas estou declarando a renda.
Renda? Que renda? Ora,
a dos outros, claro.

Vivendo da riqueza
alheia
(e desta não muito)
para poder sonhar com versos
nem sempre tão longos.

Mas ao menos desses o sonho
e o som incessante
enquanto canto. E conto
cada centavo.

As vezes esqueço uma rima
mas nunca um artigo.

Parece piada
ou talvez em excesso
pessoal.
Mas é verdade que me divirto
pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(e ainda não desistiu)
é procurado pelos frequentadores do Grand Monde.


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Onishiroi Shonin

sexta-feira, 27 de março de 2015

Tempos modernos

Ela é bonita, linda
que dá até medo.
Daquele jeito que anda
como quem sabe, no salto.

Ela sorri, e o ar vibra
impossível ao ver não sentir
o derreter de cada fibra
e deixar a barreira cair.

Ela é bonita, linda.
Que dá até medo.
Medo, coitadinha
inocente não percebe o ledo

engano

de olhar-se no espelho
e achar-se feia.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 23 de março de 2015

Vagabond Soul

Me chamou de mentiroso e vagabundo
pouco antes de ir embora.
Nem me dei ao trabalho de negar,
sou realmente desse tipo, toda hora.

Solto, livre, quase caindo.
Pés entrelaçados e língua enrolada.
E sim, sou eu, responsável somente
minha espécie nesse caso desculpada.

E por isso tenho cada palavra
escolhida
e todos os gestos que sempre quis
na sua vida.

Sim, tudo que digo e sou
vale menos que o ar.
Mas ao som de uma rima
sempre farei você voltar.

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Onishiroi Shonin

sexta-feira, 20 de março de 2015

A morte do chinelo


Era um par de Havainas. Havaianas mesmo, do tempo em que era o chinelo mais comum do mundo. Meu primeiro par, ou, ao menos, o primeiro que consigo lembrar. Antes somente utilizava chinelos da Raider (não, não ganho jabá por isso. Ou com qualquer coisa deste blog aliás). Um carnaval, dez anos atrás, fui para mauá com um amigo e por alguma razão, levei quele par de havaianas. Na época, tinha ainda um símbolo da coca-cola nela, o que não foi a razão de escolhe-la (minha fonte de cafeína já era o café, mesmo nessa época), o fiz por ser uma que tinha uma alça para prender no pé, o que achei que seria prático no carnaval.

Devo ter demorado umas 24 horas para cortar a maldita alça. E passei depois uns bons dois ou três anos reclamando do chinelo sempre que o usava. Mas o tempo passou. A marca da coca-cola foi sumindo, a espuma foi amaciando com meu peso (o que, visto minha diminuta massa corporal, demorou um bocado), o formato do pé foi ficando definido na superfície... e aquela maldita superfície rugosa e escorregadia foi ficando cada vez mais lisa e, estranhamente, aderente. Era um chinelo com o qual se podia correr, ir a praia, andar de bicicleta e ainda chutar pessoas inconvenientes (não recomendo fazer isso com desconhecidos, melhores amigos fazem excelente material de chute para esse tipo de teste).

Ah. E as memórias. Não sei mais quantas vezes pisei na areia com aquele chinelo, para depois o carregar na mão enquanto corria. Ou quantas vezes passei horas sobre o asfalto quente e a sola dele não derreteu. Quantas poças de cerveja (e outros líquidos menos interessantes) foram pisadas... gostaria de ter a quilometragem registrada. Cabe lembrar que para mim, 10 km é uma distância perto para caminhar, e durante uns bons anos não me dei ao trabalho de trocar o chinelo. Aonde precisasse ser, aquele chinelo vagabundo e puído, já sem sinal de sua origem, iria comigo, por vezes jogado de forma descuidada e aleatória na mala ou na mochila caso fosse necessário (a vida me ensinou que é sempre bom ter um chinelo na mochila, mesmo se você tiver que ir à um lugar de sapatos sociais).

E então, eis que o chinelo arrebentou. Sem nenhum acidente ou sinal prévio, simplesmente, andando pela casa, ele desistiu de viver, como se chegasse ao limite de sua idade e seu tempo tivesse acabado. Um triste evento. Um fim indigno para um companheiro tão antigo. Mas tento lembrar das coisas positivas e seguir em frente. Afinal, ao longo desses anos acumulei uma incrível quantidade de chinelos nunca utilizados. Ao olhar tive a sensação de que eles se multiplicam espontaneamente. Não consigo me recordar da origem de nenhum deles. Escolho um, pensando no legado que ele herdará.

Na primeira pisada na rua penso que preferiria andar descalço. Sobre o asfalto quente. Com uns caquinhos de vidro para adicionar emoção. Três tropeços (que não entendi a origem), alguns escorregões (falei da superfície rugosa anti-aderente?) e uma queda quase fatal (assim como os gatos, o chinelo parece ter uma vontade de dobrar-se quando menos espero visando a dominação mundial) depois em um tempo de 10 minutos (!) de caminhada, descubro que me sinto velho demais para dispor do tempo e energia para reconstituir esse tipo de relação com um chinelo. É muito que preciso investir, e já tenho que investir meu tempo em relações com minha mulher, filha, colegas de trabalho e este laptop que adora descobrir novos problemas que precisam de correção. Infelizmente, me vejo obrigado a pendurar o (des)conforto de um par de chinelos no pé. É triste, mas preciso aceitar. Acabou. Foi um tempo bom, e pensarei neles nos dias de finados. So long, and thanks for all the fish.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A coisa toda

Eu sei que tem as contas
e toda a questão de se tem
ou não
dinheiro para todas elas.

Só que hoje não quero saber.

Sei que tem as outras questões
da opinião e da moral e da...
das outras coisas.
Realmente não pensei nelas hoje.

Acho que esqueci o celular
em algum lugar.
Não me lembro muito bem,
hoje ele não vai importar.

Hoje (e para sempre)
vamos  simplesmente
nos beijar até as estrelas apagar.


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Onishiroi Shonin

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Broken toy

I've felt the urge to love,
to ease the burden of emptiness.
Felt it not as a hunger
(as once though I would it be)
and not as a unending thirst
(as sour my throat was even still).

I've felt the urge to love,
unbeknownst to it's power.
It's subtle, overwhelming
power.
But for once, I've felt empty
of the always trice damned
emptiness.

Once
I've even felt a beating.

Was empty of emptiness
but empty was I still.
Loved, voraciously. Loved.
And if the emptiness left
it didn't welcomed anything else.

Then, for a while
I drift. And longed.
Until I found my real filling
in emptiness.


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Onishiroi Shonin

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Queimando o céu (2)

Meu céu era laranja
e vivia com medo
de ser o crepúsculo
(do fim de tudo anúncio)
e não da aurora
o lusco-fusco.

A agonia e temor
pareceram uma eternidade
mas por fim, ficou
tudo azul
e fez-se dia.

Dia belo e glorioso
que sobre um verde gramado
frui.

Fruir.

Senti o vento e o frio
de uma sombra.
Tolo.
Ao dia segue-se
n a t u r a l m e n t e
o vermelho crepuscular.


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Onishiroi Shonin

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Coisa mais pura

Eu passo o tempo todo pensando
em números, palavras, sentidos
escolhas.

Peso e considero, meço.
Comparo e debato.
Decido.

Viro em cruzamentos ou
sigo reto, ou volto
ou outra coisa qualquer.

Vivo pensando.
Respiro pensando.
Durmo pensando.

Quando escrevo
finalmente
eu não me importo.


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Onishiroi Shonin

domingo, 4 de janeiro de 2015

Weapons of mass destruction

The barbarian that came
that season was the worst.
Drank all mead, not a spill.
Eat all meat, if raw still.

In his hands not axe and board
in his head not helmet and horns.
Even so the barbarian walked
unchallenged, unwavering.

Put fear and cowardice
in our warriors.
Stole the heart and soul
of our women.
Bewitched the dreams and hopes
of our children.

The damn barbarian
with his lute and verses
who did not hold back a single string.


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Onishiroi Shonin