terça-feira, 28 de abril de 2020

Alguns minutos antes do fim

Me pediram boas notícias e,
se eu pudesse,
um punhado de palavras belas
que tornassem,
como se isso bastasse,
menos dolorosos os dias.

E eu entendo a vontade, pois
tudo que ouço faz do mundo
uma aquarela que tremeluz
sob o filtro da eterna lágrima
presa nos meus olhos que
por resiliência ou desespero
se recusa a correr.

Tivemos que ficar em casa.

Isso não impediu as notícias.
Os nomes, as estatísticas.

Observei o inevitável fim,
já sem forças para sentir
o que realmente deveria
no tão desesperado
crepúsculo dos dias.

No laranja e azul do fim de tudo
enquanto minha esperança se deitava
além do horizonte para nunca mais
uma linha invisível, um papel de seda
e dois ou quatro gravetos
pintou no ar a assinatura infantil
das mãos da criança que voava
em espírito acima das grades
dos bloqueios, das notícias.

No oscilar das rabiolas,
como anzóis alados,
fisgaram meu sorriso de volta
e eu vi que tinha, afinal,

um pequeno punhado de palavras
ainda
belas.


______________
Onishiroi Shonin

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