terça-feira, 12 de março de 2013

Do cotidiano


As vezes, você registra alguém. Não é um grande reconhecimento, nem um grande evento. É algo bobo, e que costuma passar desapercebido. Ao longo de um dia típico, uma pessoa que vive no mundo moderno passa por centenas de pessoas, milhares se você trabalha no centro, e todas essas pessoas passam desapercebidas. Mas aí, algo acontece, e você registra alguém.

Algo bobo. Alguém que você ficou olhando na fila do supermercado, ou que estava no mesmo elevador que você na hora do almoço. Pode ser alguém que discutiu com o gerente na fila do banco, ou que correu atrás do ônibus. Ou simplesmente algo que aconteceu sem justificativa. Por algum motivo, naquela hora, você travou o olhar em uma pessoa e a registrou.

Nada demais até então. As vezes, até é deixado para lá. Só que, de repente, você começa a notar essa pessoa, no meio da multidão que atravessa sua visão todos os dias. Você nota quando a encontra sempre em um determinado lugar, fazendo uma determinada coisa. Não é uma obsessão, não é uma paixão ou outro tipo de observação minuciosa. Você só destaca essa pessoa no meio do mar de gente que vê. Dentre todas as pessoas que você vê todo dia, essa é a que você realmente nota.

E, sem que perceba, começa a descobrir coisas sobre ela. Não é que você pense no assunto, ou mesmo tente observar algo. É um conhecimento osmótico, aparece na sua mente sem que haja esforço. Simplesmente, você percebe que a determinada pessoa não come carne no restaurante que por acaso costumam se encontrar, ou que sente uma dor ao pisar com o pé esquerdo. Nota pelo crachá no elevador o andar no qual ela trabalha, ou qual a bebida favorita pelo que costuma ter no carrinho do mercado. Conhece sua voz, e as vezes alguns de seus temas prediletos. Enxerga como o tempo afeta as rugas do rosto, sabe se houve algum problema quando a pessoa para de sorrir ou mesmo estranha quando muda algo na rotina. Eventualmente, passa a saber mais sobre uma pessoa totalmente estranha do que sobre as pessoas que efetivamente vivem com você, mesmo nunca parando para conversar ou mesmo saber seu nome.

Até que, em um dia totalmente aleatório e sem propósito, você e essa pessoa cruzam o olhar, e só então percebe.

Você também foi registrado.



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Onishiroi Shonin

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