Me pediram boas notícias e,
se eu pudesse,
um punhado de palavras belas
que tornassem,
como se isso bastasse,
menos dolorosos os dias.
E eu entendo a vontade, pois
tudo que ouço faz do mundo
uma aquarela que tremeluz
sob o filtro da eterna lágrima
presa nos meus olhos que
por resiliência ou desespero
se recusa a correr.
Tivemos que ficar em casa.
Isso não impediu as notícias.
Os nomes, as estatísticas.
Observei o inevitável fim,
já sem forças para sentir
o que realmente deveria
no tão desesperado
crepúsculo dos dias.
No laranja e azul do fim de tudo
enquanto minha esperança se deitava
além do horizonte para nunca mais
uma linha invisível, um papel de seda
e dois ou quatro gravetos
pintou no ar a assinatura infantil
das mãos da criança que voava
em espírito acima das grades
dos bloqueios, das notícias.
No oscilar das rabiolas,
como anzóis alados,
fisgaram meu sorriso de volta
e eu vi que tinha, afinal,
um pequeno punhado de palavras
ainda
belas.
______________
Onishiroi Shonin
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