O moinho do progresso não pode parar
foi o que disse o homem justo
isolado em sua varanda, com vista
para os meus braços na roda.
Eu ouço as engrenagens lubrificadas
pelo sangue dos meus antepassados
e suor dos meus irmãos acorrentados
em correntes de papel e códigos de barras.
O moinho do progresso não pode parar
foi o que disse o velho de camisa verde
que por patriotismo eu deveria defender
o navio negreiro que me deu essa oportunidade
de estar aqui, moendo os ossos dos meus
para o erguer da civilização abençoada
por deus, um que não é o dos meus pais,
mas que eu fui abençoado por conhecer.
O moinho do progresso não pode parar
foi o que disse o hamburgueiro sem chapa
pois que o que seriam uns milhares de mortos
se não mais carne para suas fornalhas?
Continua sendo a carne mais barata
sob chicotes ou horas extras nunca pagas
feitas sob a promessa de liberdade
ou de sociedade.
O moinho do progresso não pode parar
foi o que disse o atlético líder
enquanto garante o direito do feitor
de dispor do meu corpo do jeito que for.
Progresso, conquistei o sonho dos meus
antepassados ao ter direito ao luxo
de cova individual e nomeada
para poderem meus filhos saber quem fui
quando forem eles, felizes e contentes
por conta própria, as piores das correntes,
empurrando o moinho do progresso
por sobre meus próprios ossos.
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Onishiroi Shonin
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