Salvamos a alma dela.
Afinal, evitamos que ela
tivesse acesso a conteúdo
assim declarado pornográfico
porque dois homens se beijavam.
Também evitamos ela de ser.
Fazia ballet e falava inglês.
Precisou defender o avô
que ela fazia essas coisas
coisa de branco do asfalto
para que soubessem que era cidadã,
porque os livros de escola
e os sapatos de ballet na mochila
podiam ser confundidos como
foi um dia o martelo de um pedreiro
ou, quem sabe, de um carpinteiro,
com algo que não era uma bíblia.
Salvamos a alma dela.
Impedimos ela de se tornar
uma transgressora, como esperam
que todo preto, pobre e favelado
se torne um dia.
Mas fazia ballet e falava inglês.
Não salvamos ela, uma pena,
do tiro de fuzil
do policial em auto-defesa
do traficante em auto-defesa
do helicóptero em auto-defesa
da sociedade que esqueceu ser social.
Ser feita de gente.
Salvamos a alma dela.
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Onishiroi Shonin
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