Queria ela, mais um dia
a simplicidade e a leveza
de uma saia que o vento leva
a sandália que nem pesa
e a camisa de algodão branca
alva, livre, leve
e sem sutiã.
Queria ela, uma vez
ser pele e criança, simples.
Ser ela, livre, sem
peso, sem pensar, sem
olhar para trás
e sem sutiã.
Queria ela, mas
quem a olha tão leve
vê não pele, não criança,
vê um corpo, um pedaço de carne
nos olhos pesados de um mundo errado
a leveza é mal entendida, ganha peso
ganha nomes
ganha sons
ganha intenções
porque, porque tão simplesmente ela é
e sem sutiã.
Queria ela,
não ter que ser daquele jeito.
Manteve a saia, a sandália e
mais um dia, todo dia
metafisicamente queimou o sutiã.
Ao invés de leveza, de pele
de ser criança
deixou correr aço em suas veias
gelo em seu olhar e peso
peso, tanto peso
em cada passo, cada andar.
Armou-se quando queria vestir-se
enfrentou quando queria ser
e atravessou o mundo
dura mulher, pedra coração
através do qual queria tão simplesmente
andar.
Queria ela,
não ter que todo dia, uma vez mais
queimar um sutiã
na esperança somente de que
um dia
entendessem o que representava.
Queria ela,
ao livrar-se da corrente
não tornar-se mais pesada, mais presa
mais enfrentada. Encarada. Julgada.
Queria ela
ser leve, ser pele, ser criança.
Talvez sorrir
e sem sutiã.
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Onishiroi Shonin
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