sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Respostas rápidas sobre a Petrobrás e a gasolina

Antes de qualquer coisa, um disclaimer. Moisés não é economista, embora tenha ensinado conceitos de economia para muitos economistas. Moisés também não é analista de investimentos, embora tenha ensinado conceitos de analise para muitos analistas. Moisés é AAI e operador de BackOffice certificado pela bolsa, com seis anos de experiência no mercado financeiro. Assim, sou autorizado a passar recomendações de investimentos e executá-las, mas não de preços de ações. Para clientes meus interessados especificamente em ações eu repasso as recomendações do time de analistas certificados. Se deseja algum tipo de direcionamento sobre investimentos, fale comigo no pessoal.
Aham, agora que pulamos a burocracia, vamos falar mais uma vez de Petrobrás. Especificamente, vou tentar hoje explicar de forma simples algumas perguntas comuns sobre a empresa e também acrescentar outras informações que costumam aparecer no noticiário mas não são adequadamente explicadas, como porque a empresa é tão endividada, porque as vezes o dólar alto é bom e outras é ruim, e porque a gasolina no Brasil é tão cara e ao mesmo tempo vivem falando que ela é barata demais para a Petrobrás.
Vamos falar do preço da gasolina. Para isso, recomendo fortemente o http://pt.globalpetrolprices.com/. Eles possuem uma excelente comparação de preços médios atualizada com certa regularidade. Nós podemos com isso considerar o preço médio (considerando 11/01/2016 e dados oficiais) da gasolina no Brasil como R$ 3,65. Enquanto isso, nos Estados Unidos o preço é de R$ 2,41 e na Venezuela é R$ 0,06 (!). A média mundial é R$ 3,98. Existe uma série de motivos para estas discrepâncias e são os assuntos relevantes de hoje.
1)  Embora o barril de petróleo seja negociado em preço “padronizado” (isto é, o mercado internacional negocia valores similares entre si), cada país tem tributos e subsídios diferentes. Os Estados Unidos fornecem subsídios consideráveis para as empresas petroleiras, diminuindo o custo pelo qual elas precisam repassar a gasolina e outros produtos derivados ao consumidor. A Venezuela fornece subsídios absurdos, assim o baixíssimo preço. Por nosso lado, apesar da Petrobrás ser semi-estatal (já comentei anteriormente sobre o capital misto neste blog), nós temos impostos severos sobre a gasolina e outros derivados.
2)  A negociação do barril pode ocorrer em preços “padronizados”, mas o custo de produção e refino não é. O investimento necessário para abrir um poço é enorme e os retornos são... complexos. Isso tornou-se bem claro no caso da OGX, que após imensos investimentos para perfurar alguns poços, descobriu que deles sairia muito menos petróleo do que esperado. Esses poços continuavam produzindo barris, mas o custo total para extração de cada barril, contando todo o investimento, era alto demais para haver lucro na venda destes, o que tornou o negócio inviável. Algumas regiões produtoras possuem vantagem nesta linha por terem poços de fácil acesso, em lugares simples de escavar. Por nossa vez, temos muito orgulho de que a Petrobrás é a maior do mundo em exploração de petróleo em águas super-profundas. Ocorre que isto não é realmente um trunfo, e mais uma necessidade. O motivo pelo qual certas companhias não investem tanto quanto a Petrobrás neste tipo de exploração é justamente que ela é custosa, e havendo opção por poços mais simples, é o que fazem. Como nós temos uma grande quantidade de petróleo em águas super profundas, investimos muito nisso. E isso aumenta o custo de produção. Mesmo conseguindo extrair o barril, o processo é muito mais custoso e, por conseqüência, faz a necessidade de que o preço do produto final seja maior. O Pré-sal, tão comentado, é um caso de poços em condições tão adversas que a maioria das companhias de petróleo não estaria muito interessada na maioria destes poços, pois o custo deles é inviável. E isso nos leva a...
3)  Política de negócios absurdamente ruim. Parte disso eu comentei no post anterior sobre companhias de capital misto. A burocracia e as metas levam muitas empresas a ficarem em situações nas quais são forçadas a fazer um negócio ruim. Por exemplo, quando o Itaú e o Unibanco fizeram sua fusão, vários contratos comerciais foram violados. O Itaú tinha um contrato de exclusividade com o Pão de Açúcar no qual todas as operações do mercado eram com o Itaú e nenhum dos dois podia fazer essas operações com outro mercado/banco. Mas ao fundir-se com o Unibanco, o Itaú incorporou as operações de outros mercados, gerando quebra contratual e tendo que pagar uma multa violenta para o Pão de açúcar (R$ 600 milhões: http://glo.bo/1UUso0Z). No caso de uma companhia semi-estatal, o seu sócio controlador nem sempre foca em lucro. Com isso a Petrobrás teve que abrir refinarias em locais aonde não era economicamente viável com o objetivo de gerar desenvolvimento em regiões sub-desenvolvidas (antes que argumentem, isso acaba não desenvolvendo a região pois conforme o projeto dá prejuízo ele acaba parando ou não crescendo como deveria. Eu comentei isso em mais detalhe no post sobre capital misto). Outra questão é a obrigação de participar de certos negócios do pré-sal. Isso fez com que outras empresas entrassem como parceiras em negócios viáveis e deixassem a Petrobrás se virar tentando escavar poços não-rentáveis, mas que era obrigada a explorar assim mesmo, aumentando seu custo de produção.
4)  A balança cruel entre a variação cambial e o preço do barril de petróleo. Muitas companhias que trabalham com petróleo giram todo seu caixa em dólares. O barril é cotado em dólar e, nesse sentido, a variação cambial tem menos impacto para elas. Contudo, quando uma companhia tem seu giro principal em outra moeda, a variação cambial gera um efeito extra. Muitos compromissos da Petrobrás estão em dólar, tanto por obrigação quanto por estratégia. Afinal, com isso, o que afeta o barril afeta também a companhia inteira. Adicionalmente, a empresa faz operações para proteger-se de variação cambial como toda boa grande empresa. Em cenários normais, isso faz com que a variação cambial afete pouco a empresa. Contudo, em um período muito curto de tempo houve um aumento absurdamente alto do dólar ao mesmo tempo que o barril de petróleo caiu muito. Fosse só um ou outro, o movimento poderia se compensar. Os dois ocorrendo na brutalidade que foram geraram efeitos que nenhuma proteção poderia resolver. Ligado ao problema anterior da política de negócios que obrigou a empresa a realizar muitos investimentos antes de gerar o caixa necessário e por conseqüência realizar grandes levantamentos de capital (vulgo: Empréstimos) em dólar, a empresa fica numa situação em que seus custos encontram-se elevadíssimos.

Por enquanto, vamos deixar de lado a questão dos preços controlados. Falo disso quando for falar da inflação. O resultado destes fatores representa que, mesmo que o preço do combustível suba (lembrando que ele ainda está abaixo da média mundial, parecendo alto em relação contra países que fornecem subsídios para as produtoras), ele ainda será “barato” do ponto de vista da Petrobrás, pois seus custos de produção e necessidade de geração de caixa no momento (e sempre) estão elevados. Então, sim, a gasolina no Brasil é barata em relação ao padrão do mundo. Considerando todos esses fatores, seria esperado que o preço estivesse acima da média mundial, ao invés de abaixo. É óbvio que nenhum de nós gosta da idéia de ter um preço de gasolina elevado, contudo, argumentar que o combustível no Brasil é caro pode não ser a melhor escolha de palavras. Depois falamos da inflação e de como isso afeta sua vida e a relação entre inflação e falta de crescimento econômico.

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Onishiroi Shonin

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