sexta-feira, 14 de junho de 2019

Ressaca

Eu a sinto escorrendo entre meus dedos,
escapando, de minhas unhas afiadas,
enquanto a prendo
com meus dentes.

Mordo. Cada vez mais forte.
Minha boca sente o sabor metálico
mas ainda assim, lentamente
ela foge, como areia, grão
a grão.

As minhas mãos, o vértice
da cruel ampulheta, lenta,
inexorável.
Que não sou capaz de inverter
nem, com todo meu poder,
conter.

Eu a sinto escorrendo entre meus dedos.
Seu corpo, se desfaz, se esvai,
levada de mim, pelo vento.

Mas meus dentes, estes,
a prendem.

Mordo dela a alma.

A perco, quando o último grão
cai
e o vento
a leva.

Sinto o frio
a ausência
o fim da tempestade.

Mas os lábios, nestes
o sabor metálico
da eternidade.



______________
Onishiroi Shonin

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