Escrever
poemas é difícil. Já escrevi sobre isso em poemas. Mas não em prosa. E, fato,
eu prefiro em verso. Mas as vezes é preciso prosear. Tem coisas que não podem
ser ditas em verso, ou são, ao menos, difíceis. A prosa tem certa clareza e
objetividade (quando não é Nietzsche que escreve) que a poesia, habitualmente,
não tem (exceções se aplicam, inclusive minhas). E eis que tem algumas coisas
sobre escrever poemas que tenho tido vontade de falar... mas apesar de ter
muitos versos sobre, achei que faz sentido fazer uma prosa. Principalmente para
quem me fala que quer escrever ou que escreve. Ou só tem alguma curiosidade
sobre como funciona minha louca louca mente.
Eu
comecei a escrever em 2001. Como a maioria dos poetas iniciantes, guardei quase
tudo escondido do mundo. Mas um dia minha professora de redação viu. E disse
que gostou. E a professora de arte. E os professores de história. E a garota
que eu gostava. E... vou te ser sincero, quando leio esses primeiros poemas, eu
agradeço os seres humanos serem capazes de mentir para agradar os outros,
porque eram poemas horríveis. Mas essas pessoas me estimularam a continuar, e a
mostrar o que fazia. E o que se segue disso... são coisas que eu gostaria muito
de saber quando comecei, e só agora, uma vida depois, começo a entender. E são
coisas que acho que cabem dizer.
Eu
achava que poemas eram sobre palavras, vocabulário, métrica, rimas. Que poema
era soneto. Ou epopeias. Hai-kais. Vinícius, Shakespeare, Pessoa. E.... em
parte, é. Mas nada disso faz um poeta, ou, melhor, um poeta não faz nada disso.
Escrever um poema encaixando palavras e sons é... possível. Mas não faz um
poema, nem faz de quem faz um poeta. Não mais do que empilhar tijolos faria de
um engenheiro um artista. Forma é importante. Mas arte... arte é um outro
treco.
A maior
parte de escrever um poema, ao menos para mim, é “olhar” o mundo ao meu redor
com “olhos de poeta”. Observar o mundo e não somente tropeçar em, mas
ativamente procurar versos. Assim, sem que eu percebesse, passei de uma criança
que escrevia sobre o tempo, o amor e a felicidade, para uma criança um pouco
mais esticada que escrevia sobre rosas que cresciam no asfalto, sobre as luzes
do trânsito, o ar-condicionado que parava de funcionar... e sobre o tempo, o
amor e a felicidade.
E sobre
papel. Eu tenho muitos poemas sobre papel.
Essa
forma de olhar para o mundo é... algo complexo. Se me perguntarem como aprendi,
não sei dizer. Se me pedissem para ensinar, não saberia como. Mas eu sei que
pode ser praticado. É como o olhar filosófico. Se você decidir que vai fazer
isso, e se mantiver fazendo continuamente, eventualmente será difícil parar de
fazer. E então os poemas surgem das coisas mais triviais e mais incríveis, como
uma hora que a luz foi apagada e viu-se o reflexo de outra janela, ou de quando
o trem bateu no poste. Se você fizer isso... o resto é fácil. Mas ISSO é
difícil. Bem difícil. Difícil o suficiente para que seja algo como atravessar o
impossível.
E, por
isso mesmo, escrever é importante. Porque a experiência de ver essa coisa
maravilhosa no trivial é extasiante. E a arte é uma forma de trazer essa
experiência de volta para quem não a teve. E, frequentemente, com resultados
diferentes para cada um. E que bom, adoro quando veem nos meus poemas algo que
eu não tinha visto. Torna eles vivos, reais. Mais reais que eu mesmo talvez.
Mas...
escrever é difícil. Quando comecei esse blogue em 2013 eu fiz, ao longo do ano,
53 publicações. Nem todas poemas. Em 2014 foram 29, depois 25 em 2015 e somente
11 em 2016.
E então
eu parei. Não parei somente de publicar. Eu parei de escrever. Eu simplesmente
não conseguia “ver”. Me deixei ser arrastado pelo prático, pelo necessário, pelo
concreto. Quando colocava uns versos quaisquer no papel, achava-os horríveis e
abandonava a ideia. À quem me perguntava, dizia que o poeta estava morto, e que
talvez nunca mais escrevesse. E falava de outra coisa, como política e
economia.
Então...
então eu fui em um show do Nando Reis na rua. E fiquei na cara dele. E ele
cantou, uma das primeiras vezes que o fez pelo que sei, “Rock ‘n’ Roll”. E
daí... daí que voltei a ver as letras de Caetano e de Chico, a reler meus
poetas favoritos (obrigado Fabio Rocha), meus próprios poemas favoritos e... a escrever
poemas. E de uns tempos para cá, escrevo quase todo dia. Não, eu não publico
tudo. Eu demoro para achar bom o que escrevo.
Para que
então esse discurso longo e errático. Bem, porque também voltei a conversar com
pessoas que escrevem. E essas pessoas me dizem que o que escrevo é bom, mas que
tem tido dificuldade para escrever. Porque o mundo adulto é real para todos
nós. E, como foi para mim, se veem deixando morrer dentro de si esses olhos que
tudo veem no mundo.
Escreva.
Se quiser escrever, escreva. Se não achar bom, escreva do mesmo jeito. E
continue escrevendo.
Uma
hora, os olhos se abrem, e torna-se impossível não ver. E aí dá para escrever
até sobre política e economia.
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Onishiroi Shonin
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