Sim, eu conheci o poeta.
Eu o encontrei no vale,
andando entre os lírios.
Admirava-se com cada
um, único, lírio.
Conheci sua gargalhada,
trovejante, sonora, contagiante.
Contava histórias como um mago
tecendo o mundo em palavras.
Em todo o tempo com o poeta
contudo,
nunca o vi derramar uma lágrima
sobre as pétalas dos lírios.
Ah, eu o vi sério, frio,
com os olhos extremamente distantes.
Quando indaguei, ouvi
em dura, seca, árida prosa
que o poeta havia trocado
lágrimas
por versos.
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Onishiroi Shonin
terça-feira, 15 de julho de 2014
Final de outono
Eu vou descendo pela rua.
O chão é tão limpo,
que não há pedras à chutar.
A iluminação, tão farta,
que não há sombras a esgueirar.
É final de outono, as folhas
já caíram todas.
Eu vou descendo pela rua.
Uma rua qualquer, mas
que todos já desceram, todos
vão descer.
Aqui, nessa rua,
eu destruí um coração.
Eu vou descendo a rua.
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Onishiroi Shonin
O chão é tão limpo,
que não há pedras à chutar.
A iluminação, tão farta,
que não há sombras a esgueirar.
É final de outono, as folhas
já caíram todas.
Eu vou descendo pela rua.
Uma rua qualquer, mas
que todos já desceram, todos
vão descer.
Aqui, nessa rua,
eu destruí um coração.
Eu vou descendo a rua.
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Onishiroi Shonin
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Avenida das Américas
Tentaram colocá-las em linha
mas elas não sabiam fazer fila.
Disseram a cada uma: seja bela
mas todas se sentiram meio cinza.
Quiseram elas alcançar o sol
mas lhes negaram.
Quiseram elas abraçar o mundo
mas lhes podaram.
Quiseram elas desistir de tudo
mas lhes regaram.
Sem que ninguém visse
foram deixando de ser.
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Onishiroi Shonin
mas elas não sabiam fazer fila.
Disseram a cada uma: seja bela
mas todas se sentiram meio cinza.
Quiseram elas alcançar o sol
mas lhes negaram.
Quiseram elas abraçar o mundo
mas lhes podaram.
Quiseram elas desistir de tudo
mas lhes regaram.
Sem que ninguém visse
foram deixando de ser.
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Onishiroi Shonin
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